quinta-feira, 30 de outubro de 2014

do inesperado...

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"No Catumbi, montado a cavalo,
lá vai o antigo poeta
visitar o namorado.
Não leva flores, que rapazes
raro gostam de tais mimos.
Leva canções de amor e medo.
Cachoeiras de metáforas,
oceanos de anáforas, virgens a quilo.
Ao sair, deixa ao sono cego do parceiro
dois poemas, um cachimbo e um estilo."

É ele !
SECCHIN, Antonio Carlos. Todos os ventos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
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o corpo inesperado

para 
aquele corpo
queria um poema que nos queimasse vivos
que machucasse para nos consolar nesses dias todos iguais
que discordasse da causa e produzisse um efeito de vida
ou de morte

aquele corpo
reconhecia as pedras
aquele corpo
só se ocupa das grandes causas
e deixa as pequenas encrencas do cotidiano
para os anjos do
primeiro
segundo
e terceiro escalão
aquele corpo
por menos que nada
achou um espaço
ao lado do meu
aquele corpo
mesmo por um curto espaço de tempo
ocupou uma eternidade de ideias
e sentimentos
inaudíveis
incompreensíveis
que nem ele
nem ninguém
entenderiam
"Os corpos se entendem mas as almas não"
Bandeira diria
mas com
aquele corpo
eu sabia que não nada tudo e quase
iria durar muito e o pouco
me cansa
então fui descansar
depois daquele corpo
completamente
exausto
"(Todas as manhãs
o aeroporto em frente
me dá lições de partir)"

e eu aqui deitado
para ir sempre
a algum lugar de demorar
e para tingir a escrita
de brilhos lentos
e silenciosos
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