"palavras que se perderam em algum lugar
que você evita."
foto de Piu Gibson
FERÍVEL
Julio Carvalho e Fernando Schubach
pesadelo em vez de insônia
vigília da infância
no escuro da fronha
que sonha
que sonha e baba
sorri e desaba
abafa a mentira
que a verdade conta
aponta o dedo na ferida
que sangram as notas
que se esgotam
aceite o convite
faço um brinde
de vinho tinto
vasto, opaco
com doses de orvalho
das noites obscuras
de poesias que surtam
da minha loucura
a mente é nua
por isso revólver:
se houverem perdas
que sejam sem surpresas
tenho dias em que amanhecer dói
quem inventou esse dia
que me deixou perdido dentro dele?
abrindo pausas para o silêncio passar
(ter vida e errar não é defeito)
e para amenizar o peso
escrevo
para suportar o peso do que escrevo
dou um trago profundo
e jogo para o mundo
palavras que escrevo
no escuro
no escuro do meu quarto alagado de rimas
e foi nele que encontrei a minha sina
nossos crimes regados com água benta
não ouso assassinar
no frio
em tempos de carne
seca
não há dor
que se parta ao meio
a faca encravada no peito
é maior
quando o abandono
é o crime
de fato
sai do buraco
o inesperado
o desespero do outro
não está errado
não há encontro no medo
e perdidos fazem disso brinquedo
de alto gume cortante
um assalto ambulante
um precipício
onde tudo recomeça
desde o início
.
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