quarta-feira, 11 de setembro de 2013

dos ares...

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"Entre as coisas e mim, o ar. 
Posso aspirá-lo, posso encher meus pulmões e suportar seu volume, 
a elevação sensitiva, a  overdose de realidade. 
Posso fazer isso, é claro, e resistir um instante, 
apenas um instante, a vertigem nos domínios do que apenas é, 
do que em si mesmo se basta em qualquer lugar invisível, 
tão convencida prepara seu desterro minha ativa corpulência! 
Mas não é a minha, não sou o sonho de um deus, sou líquido e tecidos, 
não quero outra expansão além do necessário suceder que me limita. 
Entre as coisas e mim, a vontade aferrada e o pensamento que afirma o possível.
Não quero deuses aqui entre o seu corpo e o meu, quero o percurso natural do abraço, 
quero apenas isso, o ar de sua voz em minha voz, 
tormenta e repouso e nosso riso que brinca."
AR - Luis O. Tedesco










































Sombra de Arte - foto de Julio Carvalho

QUARTO
A posse irreal de um quarto, seu traçado e o espaço que o contém, 
exige de você uma firme cisão entre vida própria e vida circundante.
Não se olha o terreno próprio como se olha o dos outros. 
Há intranquilidade, receio, e uma alegria nervosa 
que diante da menor contrariedade se transforma em angustiosa introspecção. 
Não se preocupe. Com todo mundo acontece algo parecido.
Tudo é tradicional em torno de: três paredes iguais e uma terceira parede com uma porta. 
É assim algo como um caixão de mortos com um cimento
colocado sobre o perímetro silencioso da subjetividade. 
Deste modo, qualquer intromissão de vida circulante, 
antes de ficar nos seus domínios, deixará sinais, marcas indeléveis, 
o descuido memorioso de outro corpo. 
Mas não se assuste se nos dias de chuva forte, 
o barulho lá de fora for muito grande. 
Você é o dono e as paredes o protegem, tão perto quanto possíveis, 
tão compactas quanto seu medo, 
tão astutas como o seu desejo de ser alguém.
Adaptado de "Cerca" de Luis O. Tedesco

peripécias do não
o não é pior que o talvez
e pior que o sim
mas o não é confortável 
porque estabelece o fim
e acaba com a 
angústia
o sim e o talvez 
são ditos
assustadores
responsáveis pelo
- o que eu faço agora?
o não é um alento
um descanso
um apagador de tudo
um recomeçar.
um talvez ou um sim
dão muito trabalho
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