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"Entre as coisas e mim, o ar.
Posso aspirá-lo, posso encher meus pulmões e suportar seu volume,
a elevação sensitiva, a overdose de realidade.
Posso fazer isso, é claro, e resistir um instante,
apenas um instante, a vertigem nos domínios do que apenas é,
do que em si mesmo se basta em qualquer lugar invisível,
tão convencida prepara seu desterro minha ativa corpulência!
Mas não é a minha, não sou o sonho de um deus, sou líquido e tecidos,
não quero outra expansão além do necessário suceder que me limita.
Entre as coisas e mim, a vontade aferrada e o pensamento que afirma o possível.
Não quero deuses aqui entre o seu corpo e o meu, quero o percurso natural do abraço,
quero apenas isso, o ar de sua voz em minha voz,
tormenta e repouso e nosso riso que brinca."
AR - Luis O. Tedesco
Sombra de Arte - foto de Julio Carvalho
QUARTO
A posse irreal de um quarto, seu traçado e o espaço que o contém,
exige de você uma firme cisão entre vida própria e vida circundante.
Não se olha o terreno próprio como se olha o dos outros.
Há intranquilidade, receio, e uma alegria nervosa
que diante da menor contrariedade se transforma em angustiosa introspecção.
Não se preocupe. Com todo mundo acontece algo parecido.
Tudo é tradicional em torno de: três paredes iguais e uma terceira parede com uma porta.
É assim algo como um caixão de mortos com um cimento
colocado sobre o perímetro silencioso da subjetividade.
Deste modo, qualquer intromissão de vida circulante,
antes de ficar nos seus domínios, deixará sinais, marcas indeléveis,
o descuido memorioso de outro corpo.
Mas não se assuste se nos dias de chuva forte,
o barulho lá de fora for muito grande.
Você é o dono e as paredes o protegem, tão perto quanto possíveis,
tão compactas quanto seu medo,
tão astutas como o seu desejo de ser alguém.
Adaptado de "Cerca" de Luis O. Tedesco
peripécias do não
o não é pior que o talvez
e pior que o sim
mas o não é confortável
porque estabelece o fim
e acaba com a
angústia
o sim e o talvez
são ditos
assustadores
responsáveis pelo
- o que eu faço agora?
o não é um alento
um descanso
um apagador de tudo
um recomeçar.
um talvez ou um sim
dão muito trabalho
.
quinquagésimo quinto mínimo
Há 13 anos
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