"o êxtase da boca
aberta pelo espanto
desarma o amargo"
.aberta pelo espanto
desarma o amargo"
light essence |
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"as bençãos de Deus tem muitos disfarces"
Claudia Barral in Hotel Jasmim
Claudia Barral in Hotel Jasmim
acompanho
todas
as falsidades
enquanto
as verdades
não aparecem
todas
as falsidades
enquanto
as verdades
não aparecem
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Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e malandros,
todos nós, criaturas daquela realidade desaforada,
tivemos que pedir muito pouco à imaginação,
porque para nós o maior desafio foi a insuficiência dos recursos convencionais
para tornar nossa vida acreditável.
Este é, amigos, o nó da nossa solidão.
Pois se estas dificuldades nos deixam - nós, que somos da sua essência - atordoados,
não é difícil entender que os talentos racionais deste lado do mundo,
extasiados na contemplação de suas próprias culturas,
tenham ficado sem um método válido para nos interpretar.
É compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que se medem,
sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos.
A interpretação da nossa realidade a partir de esquemas alheios
só contribuiu para tornar-nos cada vez mais desconhecidos,
cada vez menos livres, cada vez mais solitários.
Este é o tamanho da nossa solidão.
E ainda assim, diante da opressão, do desamparo e do abandono, nossa resposta é a vida.
Nem os dilúvios, nem as pestes, nem a fome, nem os cataclismos,
nem mesmo as guerras eternas através dos séculos e séculos
conseguiram reduzir a vantagem tenaz da vida sobre a morte.
Diante desta assombrosa solidão,
que através de todo o tempo humano
deve ter parecido uma utopia,
nós, os inventores de fábulas que acreditamos em tudo,
nós sentimos no direito de acreditar que ainda não é demasiado tarde
para nos lançarmos na criação da poesia contrária.
Uma nova arrasadora poesia da vida, onde ninguém possa decidir pelos outros
até mesmo a forma de morrer, onde de verdade seja certo o amor
e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão
tenham, enfim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra.
Quero crer que o que salva, que esta é, uma vez mais, uma homenagem que é rendida à poesia.
À poesia, por cuja virtude o inventário assustador das náuseas
que o velho Homero enumerou em sua Ilíada está visitado por um vento
que as empurra a navegar com sua tristeza intemporal e alucinada.
À poesia, que retém, no delgado andaime dos tercetos de Dante,
toda a fábrica densa é colossal da Idade Média.
À poesia, que tão milagrosa totalidade resgata a nossa coragem
e onde se destilam nossas tristezas milenares,
nossos melhores sonhos sem saída.
À poesia, enfim, a essa energia secreta da vida cotidiana,
que cozinha seus grãos e contagia o amor e repete as imagens nos espelhos.
Em cada linha que escrevo trato sempre,
com maior ou menor fortuna,
de invocar os espíritos esquivos da poesia,
e trato de deixar em cada palavra
o testemunho de minha devoção pelas suas virtudes de adivinhação
e pela sua permanente vitória contra os surdos poderes da morte.
Entendo que o que pode nos salvar sempre
e como a única prova concreta da existência
do homem seria sempre esse respaldar das palavras:
a poesia.
Adaptado do discurso de Gabriel Garcia Marquez ao receber o Prêmio Nobel em 1982
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"as chances que duas criaturas têm de se entenderem bem
não é medida pelo número de afinidades
e sim pelo número de saudades que têm em comum.
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quais são nossas saudades divididas?"
........
quais são nossas saudades divididas?"
Claudia Barral in "O Cego e o Louco"
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enquanto
as
feras
não
andam
soltas
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foi ali na fumaça dos dias
onde eu estive
em ter que enfrentar
certas situações
que me causam um medo
irracional
e nem sempre
existe alguma coragem
para acompanhar
feito carro sem freio
despenhadeiro
viaduto
suicídio
água de esgoto
dessas coisas sujas
escapo
sempre
por
pouco
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como ser um poeta?
brigue por dentro
depois faça as pazes
e se vire
em
poesia
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mas parece
que amar
muda
a medida
das
coisas
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diálogo I & II
I
desabita
à concha-prisão
e rompe
no ímpeto
a casca
grossa
dos
machucados
de outro
tempo
II
desencontra
à meia-luz
e rompe
no ímpeto
a leve
casca
de
ilusões
de outros
tempos
tudo tem que
ir
tudo tem que
dar
tudo tem que
revidar
na vida
Julio Carvalho e Vini Miranda
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that ship has sailed*
por acaso
hoje é tristeza
quer dizer que ...
amor
são dois, três
ódios consecutivos?
e a vontade
de remar
a soma dos ódios
induz força
aos remos
estaremos prontos
para atracar
assim que
acabarem as ondas
e essa tristeza
ficar à beira
mar
*
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sua ausência
em meu estômago
causa algo viscoso
e negro
entre
outras
coisas
o
medo
a ausência
o negro
é força pra superar
para se tornar mais forte
guerreiro
a luta
é fato
em cada
instante
de
vida
e eu
te espero
como promessa
para superar
a escuridão
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ama-me
além
do
claustro
e das
algemas
queira-me
livre,
espirito
da natureza.
deseje-me
solto
voltando
aos
teus
braços
liberte-me
até
que eu possa
voar
Espirito-liberdade - Vini Miranda/Julio Carvalho
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enquanto
as
feras
não
andam
soltas
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