quinta-feira, 26 de maio de 2016

dos subsolos...

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"Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho,
quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. 
E por que às vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos? 
E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. 
Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos.
Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência,
desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós...
eu lhes asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela"

Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévsk
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Haikais de Outono

todo dia pela minha vida
o sangue flui
eu sei e amo
até o fim

não existe canção 
em boca fechada
a música precisa de uma 
voz
qualquer
e
qualquer
canto morre
no silêncio

um sol amarelo
sob a sombra de uma nuvem 
perde sua cor

cansado de esperar as flores
deito sobre o imaginário 
e durmo

aguardo um voo
sem data marcada
pássaros selvagens
durante os dias

humor cinzento
dias de tédio 
mesmo com o sol 
visível

calmaria e risos
que cessam
na monotonia

move-te nuvem
meu cansaço 
é o vento do outono

lento dia:
o sol
atrás das nuvens

uma nuvem
no mesmo lugar
que o céu de ontem

cérebro & coração
muitos voos
entre esses
dois pontos
mas muitas vezes
o lugar é único

a solidão
é uma mala
sem alças
e vazia
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