"Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho,
quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor.
E por que às vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos?
E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos.
Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos.
Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência,
desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós...
eu lhes asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela"
Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévsk
,
Haikais de Outono
todo dia pela minha vida
o sangue flui
eu sei e amo
até o fim
não existe canção
em boca fechada
a música precisa de uma
voz
qualquer
e
qualquer
canto morre
no silêncio
um sol amarelo
sob a sombra de uma nuvem
perde sua cor
cansado de esperar as flores
deito sobre o imaginário
e durmo
aguardo um voo
sem data marcada
pássaros selvagens
durante os dias
humor cinzento
dias de tédio
mesmo com o sol
visível
calmaria e risos
que cessam
na monotonia
move-te nuvem
meu cansaço
é o vento do outono
lento dia:
o sol
atrás das nuvens
uma nuvem
no mesmo lugar
que o céu de ontem
cérebro & coração
muitos voos
entre esses
dois pontos
mas muitas vezes
o lugar é único
a solidão
é uma mala
sem alças
e vazia
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário