"seremos
então
o abraço
desengasgo
do outro."
Vini Miranda
.
Intervenção sobre foto de Luciano Alcanfor |
#dialogos
amigo.
tem dias que dá uma vontade de chorar.
esses (que não ouso citar) de merda.
saudades do outro.
coisas incertas que não se acertam
e outras coisas certas que erram o alvo.
fico à mercê de pessoas e setas e arcos
sem nenhum triunfo aparente
querendo só minha vida de volta.
enquanto isso eu não vejo
e finjo que vejo e pensam que vejo
mas não veem e fingem que eu vejo.
aí escureço.
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sinestésico:
o azul em som
eu apelo
ao apego
antes que me escape
o tempo
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#dialogos
masturbação
é um ato
fácil
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#dialogos
asas acontecem
em vermelho
profundo
nós em
conta-gotas
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"encontrou sua outra metade
e teve que renunciar a ela
era a parte da cintura para cima
o que lhe impedia de usar a cabeça"
Marina Colasanti
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com o tempo
os olhos habituam-se
à escuridão
a palavra
antecipadamente
pode começar
a se atrasar
com o tempo
conseguimos
ver o tempo
com o tempo
quase tudo passa
e vira
esquecimento
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uma leveza na cabeça
e um peso no coração
pensou que a leveza
pudesse aliviar
desceria para se abrigar
entre todos os pesos
e de um salto
acolheria uma calma
mas fechada no crânio
a leveza não encontra
passagem
só o pensamento transita
nem sempre obedecendo
o desejo
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o desperdício
erguido
pedra a pedra
desejando interpor
um tempo mais longo
entre as palavras:
por dentro
sustentava
um rio
de silêncio
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ele vivia assim
como homem cambiante
ao escapar de destroços
a cabeça erguida
acima da lâmina do queixo
e o horizonte da boca
fechado
e um recorte do olho
sol sol ou duas luas
minguantes às vezes
na planície do peito
um coração de floresta
cheio de sementes
tentando fazer
sentido
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entre uma ausência e outra
entre todos os jogos
das malhas do tempo
as palavras escorrem
dentro de qualquer existência
como resposta
à qualquer coisa
que sirva
como subterfúgio
para atrasar a hora
da partida
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como se fosse verdade
escapei da mentira
feito serpente
o veneno
contra
veneno:
antídoto
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a justa medida
de um coração partido
está no caminho
onde cantam
as pedras
quase tão leve
como se esquecesse
o único modo
de se evitar
sangramentos
em folhas de papéis
avulsos
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inspiração
um mural de poemas
quem me deu
foi a manhã
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incorporado à vida
me confundo com ela
todas as minhas
histórias se entrelaçam
no ritmo da viagem
qualquer tempo
pode se desdobrar
em um susto
na arte dos caminhos
inexistentes
tudo o que se faz agora
espanta
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muralhas
não bastam
para deter
o medo
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"Os livros têm os mesmos inimigos que o homem:
o fogo, a umidade, os bichos, o tempo e o próprio conteúdo."
Paul Valery
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tudo depende
da lâmina
que atravessa
a garganta
se fina como sabre
sangra até a morte
se fina feito
gilete
de barba feita
escapo
ileso
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como sobreviver
a um relato curto
de vida
cavalgar a última luz
dos pássaros
antes do voo
interpor um tempo
mais longo
entre as palavras
e os sonhos
pisar sem deixar rastros
com um brilho
entre sangue
e espada
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desses homens
que parecem
fuga
eu sempre
encontro
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espólio
mãe
tem uma ausência
estranha
mesmo com a morte
filhos não ficam
sozinhos
era mulher de falar alto
de sorrir muito
e esbravejar
seus trovões
pelos olhos
cantava que até hoje
as procissões
sentem sua falta
e as igrejas
ficaram em silêncio
extremamente
elegante
tinha vestidos de flores
e colares
armados para uma festa
qualquer
repentina
tinha um olhar
severo/doce atrás dos óculos
bifocais
olhava engraçado
por cima das lentes
enquanto a televisão
quase sempre
falava sozinha
chorava pouco
e levou o choro
junto com ela
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que família?
nem pai
nem mãe
dois dias expulsos
do calendário
transformados
em lembranças
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não há nada de errado
em esperar
só que demora
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o tempo causa
incômodos
hora de alimentar
arestas
esperar é um
vício
lento
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