sábado, 7 de maio de 2016

das confianças...

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"leu em Descartes que o certo
é duvidar de tudo,
até encontrar algo 
em que não possa mais duvidar.
decidido a seguir o ensinamento,
duvidou dele.
e começou a confiar."

O Bom Conselho
(Marina Colasanti in Hora de Alimentar Serpentes)
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jardins nos pulsos

































eis que 
o lugar de toda dor
é sempre o centro
demora onde não se espera
no mercado da memória
queimaria essa história
e outra nova
sem o mesmo ruminar
imperaria
e esse peso mais leve
como música orquestrada
violinos
violoncelos
e os pianos
da vizinhança
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enfiou 
os dentes numa agulha
e começou a costurar
as palavras eram ásperas
duras
e ruminava
poesia
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pouco a pouco
ressente
a semente
o fogo que a alcança
e o brilho
recém colhido da terra
é uma folha tenra
que renasce
o solo insiste
em voltar ao início
- a Terra pulsa
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insone
enquanto
se contam
carneiros
e os lobos
espreitam
atrás das portas
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a verdade 
não estava disponível
naquele dia
então inventou
um dia
inteiro
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concedo almas
para fazer 
poesia
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um
acidente
vascular
cerebral
impediu o pleno
funcionamento
da poesia
agora vista
com outros olhos
- quase
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antes tardes
navegantes
tão de leve principia
lembro o calor
de alguns dias
armado de muita pressa
capaz de aguçar as ondas
inferno puro
sem mais
ficar livre de incêndios e sais
mais cedo
do que 
tarde
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"se falo, não cessa minha dor;
se me calo, como ela desaparecerá?"
Jó 16,6
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ali mesmo
ostenta sua poesia
como um cego que sorri
do zero
ou quase isso
em sua retina
outros zeros cultiva
sob a pele
no vão dos ossos
em cada curva da face
antes que o tempo 
revele 
outro impasse
em minúsculos
resgates
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