quinta-feira, 5 de maio de 2016

dos encantos...

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"Desconfiai do mais trivial, na aparência singela,
e examinai sobre tudo o que parece habitual,
suplicamos expressamente, não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada,
nada deve perecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht
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Galeria Sancovsky 



































"vou-me embora
e tu ficas:
dois outonos."
Buson
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variações
de coisas
que não entendo
mas são
sinceras
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“[...] toda minha vida tem sido uma questão de lutar
por uma simples hora para fazer o que quero fazer,
tem sempre alguma coisa atrapalhando 
a minha chegada a mim mesmo”.
Bukoswki
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eu
tu
lipas
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alma
na
que
de ferro
alma
truque
aos berros
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tenho medo
do que me encanta
tenho medo
do que me entorta
tenho medo de monstros
atrás da aorta
e de sentidos
sem
resposta
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num instante
a vida oscila
entre
céu
inferno
seu
interno
e eu
entre nós
o som
ou o silêncio
justificam
os meios:
meia voz
mesmo
que
um
eco
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minha meia vida
não prescreve
receita
minha meia vida
não me serve
meio me perco
meio me acho
minhas meias palavras
são sempre
inteiras
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se eu contar
que sofro
é capaz de escapar
um romance
aos pedaços
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a prática do voo
e a plumagem
dos nomes:

o chão
eu perco o pouso
e não sei porque
na hora que mais preciso
me faltam asas
a leveza é construída
de memórias
uma rede
dentro do corpo
prestes a se romper
quando menos se espera
tenho que aguardar
o próximo voo
liberto:
um anseio
de terra
à vista
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diafragma

céu acima
da boca
língua de quem não vê
olhos de vidro
em pedaços as
mágoas devidas
dúvidas
inexplicáveis
em álbuns
de família
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enquanto
o sangue ferve
nas veias
quem escreve
é o corpo
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minha cabeça
são chuvas e tempestades
mas o meu corpo
são mares de sede
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o amor é
um oco cheio:
quando vira
passado
só faz resistir
no futuro
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memória
é uma casa
habitada
por coisas
ausentes
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anestesia sob a pele
correm nas minhas veias
os ventos do cansaço
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entediado
enterrando
a todo instante
restos
de vontades
desfeitas
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efêmero
ou quase
o amor boia no oceano
e estrelado
ele dança e rodopia
ah! como é belo
e frágil
o amor é uma bolha de sabão

Adaptado de André Ladeia

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