terça-feira, 26 de janeiro de 2016

das temporalidades...

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"é triste explicar um poema. 
é inútil também. 
um poema não se explica. 
é como um soco. 
e, se for perfeito, te alimenta para toda a vida. 
um soco certamente te acorda e, se for em cheio, 
faz cair tua máscara, essa frívola, repugnante, 
empolada máscara que tentamos manter para atrair ou assustar. 
se pelo menos um amante da poesia foi atingido 
e levantou de cara limpa 
depois de ler minhas esbraseadas evidências líricas, 
escreva, apenas isso: 
fui atingido. 
e aí sim vou beber, 
porque há de ser festa aquilo que na Terra me pareceu exílio: 
o ofício de poeta."

Hilda Hilst
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enquanto desvaneço
mantenho os olhos bem abertos
enquanto desvaneço
mantenho o coração aparente
enquanto desvaneço 
perco braços 
pernas
tronco
membros
e a flor da pele renasce
enquanto desvaneço 
espero
um outro
passo
uma contra dança 
algo
que
me
ultrapasse
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leves
as árvores
desfilam
frutos
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sou carvalho 
para rachar é fácil
árvores bastam 
machados
ferreiras (o outro)
mas sem perder
raízes
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eu quero
o tempo
visto
como um
afeto
eu quero
estar
lendo 
o tempo
de olhos
fechados
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os voos
que a cidade dá
durante a noite
são ocupados
por pássaros
noturnos
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"E tudo que não diz
é como se dissesse"
Marco Lucchesi

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para certos amores
ame-os ou deite-os

para outros amores
chame-os ou deixe-os
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e temo a cada
passo
o encontro do que
não sei

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