sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

das flores...

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"o arco-íris,
 o urso.

meus dois sustos
iniciais.

mas o tempo
ponte que cresceu
entre mim e eu.
e por onde vim.

no enterro
de cada minuto,
 pergunto:
quem morreu
 em mim?

o arco-íris?
 o urso?"

Percurso - Cassiano Ricardo
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a lâmina
impossível




































Nossa amizade é nossa viagem mais dengosa. 
Flor é uma luz alegre e uma calma que o corpo quer. 
Onde as pessoas se entendem, se ajeitam ,se respeitam, eu penso por encanto de onde ela teria surgido e das vezes que a gente se vê.
Muitas vezes minha tristeza desaparece e todas as pedras da cidade brilham , de certo que era para os olhos de Flor, quem ficaria indiferente àquele brilho em Flor? 
Penso que todos os lugares e trens e metrôs e nas lojas multiplicavam-se cores e saudações, os pássaros e músicos das ruas em rebuliço façam canto pra Flor. 
Se eu soubesse também cantaria , também desabrochava em cores só para fazer bem a Flor.
          Passeamos pouco juntos e nossas mãos e não sentiram medo do ódio, tão alheio à nossa essência. 
Vimos juntos um novo tom de verde, um novo jeito de desaguar. Como aquele pássaro que ela cuidou quando caiu do ninho. Flor é assim. O silêncio das tardes, naquele canto de muro no quintal pequeno, era cortado pela nossa conversa, eu escrevi de um jeito inédito um texto que Flor me inspirou, as leituras foram divertidas e dengosas. 
Seus olhos amoleciam e cresciam como crescem as flores miúdas e cheias de cor. No silêncio de cada almoço nosso outros  silêncios conversavam a cumplicidade do querer, prolongava-se pelas tardes de chuva as nossas conversas juntos. 
Prolongava-se o seu espreguiçar, o sono sobre a mesa, 
de cabeça baixa. 
A sua voz em uníssono de uma paz descansada de deveres. Os doces das sobremesas eram a afetividade dissolvida em leite e açúcar.
    Flor gosta de chocolate.   
      Sua alegria anuncia o carnaval, inaugura todo dia um prazer que só a intimidade dos olhos sabe entender. A intimidade dos amigos é esse amolecimento dos olhos , esse despertar pra um mundo tão íntimo que a palavra é ainda saliva, quando esmorecendo um músculo uma dança se inicia, quando a nossa amizade quando desabrocha junto, rende.
Flor é pessoa que desabrocha. Acalma minha dor aparecendo no meio do meu jardim.
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meu chão não sabe ficar sozinho
para onde eu vou
ferve a luz
debaixo dos tetos das casas
há o ontem e o amanhã
e todos aqueles futuros
perdidos 
nos amores com pele de líquen
poemas azuis pelas esquinas
ali não é preciso nada
guardamos os lugares
e os ligamos
com palavras
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não sou eu que procuro
quero entender de uma vez por todas:
as pessoas são realmente assim
elas que se plantem
a mim resta-me encontrar 
esses pedaços espalhados pelo mundo 
e sobreviver à humilhação 
de ter estas conversas e desentender
essas pessoas aparentemente loucas
eu cuido 
simples
da minha
insanidade
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eu sonho muito pouco
para compensar 
meu excesso de realidades

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