quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

da lucidez...

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"e o que foi a vida?
uma aventura obscena
de tão lúcida"
Hilda Hilst
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cúmplices 

a vida e eu
e o que é a vida?
uma sucessão 
de pequenas 
sortes onde não faço 
do difícil o meu ofício 
e anda súbita 
por trás dos vidros
a óculos vistos
e outras vidraçarias 
e vitrais
eu faço tudo
o que posso fazer
eu lanço para os deuses
essa alma incendiária 
e que eles a aumentem
para criar
versos 
desse deus poema
que ajoelha e me adora
e não faz disso alarde
o silêncio 
é meu poema
mais verdadeiro 
está em um nada 
ainda não escrito
e cheio de disfarces 
vivo com a intensidade da arte
que deus tenha pena
desse silêncio 
que acredito
esse poema maldito
calado
possivelmente
atropelado
com todo gozo
no meio da rua
desgarrado
do meu manancial
de palavras
essa poesia toda
destoada
é minha
realidade 
imaginada
onde vivo
por trás dos vidros
tentando em vão 
possuir
o que me possui
esse ser de silêncio 
muito maior do que eu
evita as pistas duplas
e as janelas abertas
já não basta ontem
ter vomitado
todos esses silêncios 
nas mais diferentes formas 
e enjoos
enojado com esses seres
desumanos
e cansado
de conviver com seres da sombra
que se apegam à vida 
assim que se sentem 
necessários 
esse enjoo
passou
depois fiz um chá
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e então praticar tudo
bem ou mal
mas repentinamente
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todas as estações 
mais as infinitas...
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estamos todos átomos
atônitos
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