quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

dos amanhe_seres...

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"Aceitar o mistério é muito importante. 
Quando o homem perde o sentimento
do assombro, a vida perde o sentido. 
Não é à toa que em que para mim fazer poesia é um "mistério". 
O ofício do poeta, porém, não pode permanecer misterioso. 
Se a mão que empunha o martelo não tiver um movimento preciso, 
atingirá o dedo e não o prego. 
A antiga função da poesia deve ser sempre respeitada, 
mas não com aquele respeito que dá sono. 
Há sempre uma escada a ser galgada, levando a níveis superiores de qualidade. 
Mas onde encontrar essa escada? 
Seus degraus são os detalhes, detalhes minúsculos, a cada instante. 
A arte dos detalhes é que conduz ao coração do mistério."

Julio Carvalho - Adaptado de Peter Brook
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diariamente
ao amanhecer
desperta
de pesadelos 
e sonhos
breves
e uma leve 
névoa 
o leva ao 
entardecer
até que a luz fraca 
cansada a visão 
de letras
tão mínimas 
o faz
anoitecer
se
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nasci assim meio estranho
incomodado
poeta
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o estreito
é o coração 
quando
na ausência
estreito 
é o nu
e a vergonha
estreito
é ler sem óculos 
sem ver direito
estreito
é desamar
de qualquer
jeito
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não morrerei 
por ter as mágoas 
paradas na estação 
errada
do ano
não morrerei 
em lágrimas 
nem me afogarei
em enigmas
feitos
pelas mãos 
de outros
meu repouso
é a represa
densa
em calmaria
que escapa da arte
das armadilhas
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uma palavra olhando o tempo
uma palavra olhando o pensamento 
uma palavra olhando o corpo
uma palavra olhando o céu 
uma palavra olhando o mar
uma palavra olhando o amor
uma palavra olhando todas as palavras:
infinito
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seu rosto
não será o último 
depois de tantas voltas
que dei
seu rosto
não estava mais lá 
portanto
o caminho também não podia estar
os rostos
não duram
nem os caminhos 
não é que o rosto
estivesse em toda parte
seu rosto 
na verdade
não esteve
em parte alguma
nunca
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acontece em mim 
a poesia 
como ordem 
para reordenar 
aquilo 
que me desmorona
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não consigo dormir
tenho um poema 
atravessado
nos meus olhos
se eu pudesse 
falaria
que fosse embora
mas tem outro poema
atravessado
na minha garganta
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toda palavra é poesia em estado de gravidez
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pequenas 
artimanhas
das
sombras
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