segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

das altitudes...

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"preciso tomar cuidado com minha ironia. 
quando ela é apenas solta aos poucos e fragmentada, 
até que me divirto 
e balanço a cabeça daquele jeito como quem diz: 
- 'Ai ai... Cada uma...' 
mas quando interpreto 
e mantenho a linha do 'raciocínio ilógico', 
chego a me assustar com a capacidade de força 
que a cordinha frágil que entrego a algumas pessoas tem. 
decapita mesmo tendo a finura de um pelo de gato."
Damí Carlos
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tento um salto
mas não sei nem como são seus dias:
se são remotos, maremotos ou terremortos
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não tenho palavras
só resquícios de silêncios
elas acabam de me fugir
fiquei livre
de me significar
sou
página
tela em branco
repouso
em minha mudez
de poeta
todas as palavras
me habitam
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o desejo é vermelho

te olho na foto 
e o tempo se faz espaço
e eu avanço como a imaginação
dos deuses
em sua volta pressinto 
a matéria dourada
de seu corpo e o desejo compreende assim
que tudo permanece 
e o início
é apenas fábula de amor e eterna metamorfose
do sem igual destino dos nossos dias
em um mundo de amores em puro desterro
a luz se embriaga
de si mesma e cega
gira em torno da fábula do mundo
em você o mar sucede e o tempo se modifica 
em você o possível princípio de todos os mares
e o pecado lascivo dos deuses
o sexo dos anjos
a pornografia do desejo
que você diz ser alterada
não é a tara em si
é a vida entregue
como o desejo da beleza mortal não passageira
em você os corações apaixonados
buscam o elixir do mundo e toda vertigem
em você existe o sangue de uma possível rapsódia que goteja
sobre teus belos músculos
que imagino
tão perfeitos como a métrica de um artifíce
por você morreram vários poemas engavetados
dorme aqui em meu coração que se desmorona
querendo trazer de volta essas palavras fechadas
buscando em seus sentidos a obediência
à música etérea aonde cessa
todo caos e permanece o sonho
como um mito que não acaba
o amor que no sangue do poeta
se transforma e delira
a música 
que volta a povoar 
ruas e esquinas
dos futuros encontros
trazendo de volta o gozo
tão raro
da pele e da fala que 
se pretende 
a sede e o raio que não cessa
é a glória
do sonho e todo o mundo – todo beijo caído
como pétala o desejo do encosto da boca sobre seu sacro púbis -
nos fala de que tudo retorna e o mesmo
amor é apenas saga 
e profecia do poeta
que sem prever o futuro
se cala
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um lado cínico
ou um 
quadro clínico?
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eu não sou só essa hora triste 
que algumas vezes me acompanha
eu não sou senão 
uma de minhas várias palavras enclausuradas
eu sou apenas uma dessas palavras 
ante meus poemas
eu me resguardei
nessas palavras, horas, 
poemas e prisões
as minhas alegrias,
poucas,
tem o peso
das pedras
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