quinta-feira, 18 de setembro de 2014

das poetisas...

,
"num olhos
áridos
pequena pupila
pula
pede
esquece
pinga
suga
canta
e cintila
pupila
não finda
oásis
infinita
a fenda
que me abre
linda!"

Pupila - Michelle Della Torre
.


























a sua roupa quis pendurar*
nas cordas do meu varal
rapaz
não é este o seu quintal
atravessando com a fúria
com a desculpa de consertar
meu destino e minha linha
já tive de sofrer
para lavar a alma
esperar a luz do dia
antever o sol
se deitar e levantar
então não me pergunte
você não sabe 
dessas tempestades
tenho muito menos do que eu tinha
e levo muito menos ainda
essas roupas molhadas
de chuvas e de lágrimas
decidi 
por isso
e resisto:
as minhas roupas agora 
secam
sozinhas
....................................................................................

epitáfio*

o oposto do senso comum -
as palavras costumam eternizar as pessoas
penso exatamente o contrário
qualquer que sejam as palavras
me fechariam em alguma ideia
e acabariam me matando
verbal, literal e totalmente
....................................................................................

a palavra escrita (parada)*
foi salva com letra tabulada
após título, fonte e cor..
arquivada!
e na tipografia oca das letras
eu me sepultava
a palavra 
e eu
estamos brigadas
a criação
produz
divórcios
a separação
é de bens 
escritos
à ferro
fogo
tinta
e revolução
só existe retorno
com o movimento
(da palavra)
inspiração
....................................................................................

o rubor me vem ao rosto e deságua nas minhas mãos*
um torpor no corpo estreita
me habitar e agir
um modo de se tornar mais criativo 
consumindo críticas em longos goles
aí sim
vem à tona
as mais deliciosas críticas 
e os mais cruéis deboches
tão breves e frágeis gotas
intolerantes à embriaguez
e penso
atingindo com a língua
um resquício de whisky 
no canto dos lábios
que nem todos os amigos
são para merecerem me ver bêbado
e nem todos os amigos são
para merecerem me ver sóbrio
separe os amigos como as garrafas 
umas cheias outras vazias
a tristeza mora nas vazias
e perceberá com a sã clareza 
que nem sempre é necessária 
alguma explicação 
porque todos os vícios 
TODOS!
são apenas um

*Poemas de Michelle Della Torre 
revistos por Julio Carvalho
.

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