terça-feira, 2 de setembro de 2014

das alegorias...

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"incêndios são causados
por sonhos mal sonhados"
Vladimir Maiakóvski
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defaced by Julio Carvalho











































alegorias:


"há quem queira fortificar seus muros
quero me livrar dos meus."

Cláudio Brites



meus olhos 
são retratos
borrados 
em que se pode ver
perfeitamente 
quase 
nada
então
por favor
não obrigado
deixei de ser os olhos de antes
agora
são olhos 
encaixados
por dentro
.......................................................................

eu vejo tudo 
como se vê o sol:
pelo calor
.......................................................................

agora virou sina
viver num corpo que 
não se enxerga
e minha luta é fazer da luz
sentido
e da dor existência e êxito
podia ser um passeio
no meio da noite
que acabasse num café
tudo faço
para evitar
essa entre outras flores
esse viscoso
medo
eu procuro
mesmo no quase escuro
me equilibrar 
no desejo
.......................................................................

quero escrever em todas as línguas
aumentar todas as horas
atirar poemas
nas claras páginas
de todos os céus
em todos os lugares 
enfim
me apoderar 
dessas palavras
pavimentadas com pedras anônimas
e usar poesia 
onde a língua não foi insultada
onde eu poeta canto
a palavra dança
.......................................................................

dos rituais
que atravessam
minha vida
os moinhos do frio
as escadas
que vão ao encontro das rotas
fechadas
meus olhos buscando
memória
como livros antigos
achados em velhas estantes
instantes
e nenhuma nostalgia
moscas na sopa dos meus itinerários
meus portos de braços desterrados 
de abraços
mãos de palmas claras
acenando
como memórias
achadas
no 
.......................................................................

palavras são bem assim
são pequenas licenças que me dou
escrever na boca das flores
nesse início de primavera
eu faço isso
por minha conta
e risco
porque eu tenho o sangue quente
e ele não quer
deixar nunca
que eu chegue ao porto
nesse mar
de poesia
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