sexta-feira, 18 de julho de 2014

dos isolamentos...

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“A poesia é necessária para salvar-nos
da claustrofobia da língua econômica, do clichê.”

Evgen Bavcar

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intro_missão

intro
meta-se
na minha vida
devagar
porque odeio
sentir
dor
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minha vida descambou pro silêncio

antes que a palavra se torne ferrugem
tento me resignar na ilha das pálpebras
aprender com a meia luz
antes de multiplicar a condição
da escuridão
agora eu olho
e toco em fantasmas
entre águas e fagulhas
a luz me desorienta
e sou quase um hóspede constante da noite
um frasco do destino
quebrado
dia após dia
me faz agora carregar
a flor da aflição
uma terra de estranhamentos
e minha cidade
à noite
à meia luz
torna-se essa concha particular


tudo se transforma
num recinto
íntimo

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outroquase

falo agora do meu quase adeus
ao meu mundo físico visual
um incidente que foi quase
a ocasião de uma despedida
mas toda vida é um adeus
só precisamos saber se há ou não há um adeus seguro
ou certo
tive sempre a ilusão de mudar as coisas
eu tinha a ilusão de que tudo voltasse ao normal
no dia seguinte
mas quando toda ilusão não é mais ilusão
o adeus torna-se radical
e percebe-se que
a vida é um adeus perpétuo
adeus aos momentos presentes
eu penso que o menino que fui
deveria entender mais sobre a vida
porque sempre me arriscava mais
porque sempre estava um pouco mais perto da morte
porque se pode dizer “nunca mais”
quando se é criança
“nunca mais” é uma palavra de eternidade
é uma eternidade que entra no tempo presente
compreender este “nunca mais”
significa também amar demais a vida
e amar demais o momento presente


adaptado de Evgen Bavcar

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(para uma despedida não-tão-longe)

odeio
a vida
quando ela me vem
com essas coisas óbvias
como as despedidas
feito livros expostos
sobre camas alheias
acompanhadas
da falta de certas páginas
futuras que me farão falta

eu me afasto

um pseudo luto
abrupto
entre aspas.
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