sexta-feira, 18 de julho de 2014

dos acostamentos...

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"Dejar el pensamiento en libertad es regresar ao ritmo; 
las razones se transforman en correspondencias, 
los silogismos en analogías 
y la marcha intelectual en fluir de imágenes."
Octavio Paz

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acostamento

preciso viajar nas cinzas
preciso viajar na poeira
dos cantos
dessas ruas
sujas
nessa poeira estão os contos
as vidas
as falas
os poemas desenhados em dias de pedra
preciso viajar nessa fome
na calma/alma
viajando sob o arco desses deuses mortos
sob cada sombra ferida
espalhada
nos postes
preciso viajar
nessas famílias como folhas de árvores
poucas dessa cidade
datadas pelo vento
coloridas pelo tempo
preciso viajar
mas minha própria família não esperou
minha vinda
- foi-se
sem fogo
sem rastro
sem memória
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a morte no divã

faço terapia
sempre fiz
talvez seja medo da morte
ou da solidão
mas eu não tenho medo da morte
tenho medo de não cumprir
as coisas que tenho que fazer na minha vida
terminar todos os meus poemas por exemplo
esses poemas não acabam nunca
parece uma eternidade
essa praga poética que me acompanha
como disse Franz Kafka
“não tenho medo da morte
mas tenho medo das dores para evitar a morte”
e talvez por isso eu faça terapia
para defender a vida a todo custo
isso é perigoso
mais que a morte
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queria fazer um poema
que fosse ao mesmo tempo
título e conteúdo
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