quarta-feira, 30 de julho de 2014

dos arnaldos...

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"A poesia escrita é capaz de transportar o leitor 
para uma dimensão do ser inteiramente diferente da dimensão cotidiana 
– pragmática, utilitária, instrumental – em que todo o mundo passa a maior parte da vida. 
Trata-se da dimensão poética do ser. 
Para que a poesia escrita seja capaz disso, entretanto, 
cada poema deve ser lido comme il faut. 
Não se lê um poema como se lê um artigo de jornal, um e-mail, uma postagem do Facebook. 
Para fruir-se plenamente um poema, deve-se mergulhar nele, e isso exige tempo. 
Ora, como tal dispêndio gratuito de tempo entra em choque 
com as exigências da dimensão instrumental da vida contemporânea, 
muitos afirmam que a poesia tornou-se obsoleta em nosso mundo. 
Penso que, ao contrário, o valor da poesia é ainda hoje imenso exatamente porque,
ao provisoriamente preterir a dimensão instrumental 
em proveito da dimensão poética do ser, ela enriquece imensamente a vida humana."
Antônio Cícero
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#drama

eu vou pegar aquele trem
não tente me impedir, #drama
faz tempo que você me tem
agora eu quero ir
eu quero expor meu norte ao vento leste oeste
sul, sem você #drama
sua bênção pra mim
você já teve o seu refém
você já teve a mim, #drama
vou me perder, vou ser ninguém
muito além do jardim
por quanto ainda isso a gente da sua laia
invulnerável
você vai me querer?
sua bênção pra mim
até mais ver, adeus amém
agora eu vou partir, #drama
sem medo, sem lamento, sem porém
não tente me impedir
eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, 
algo, alguém, seja
feliz outra vez
sua bênção pra mim
sem #drama

Versão de mamma de Gilberto Gil
por Julio Carvalho

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Outro Azul

ouve, só se ouve ouvir
o mar só se ouve quem
de longe lá de onde vem a praia
o mar daqui se ouve bem
de dentro ecoa a água
que deságua no azul vazio
serpente, serpenteia o rio
a maré é que mareia o mar
percorre corre em minha veia
a correnteza o coração bombeia
o mar onde quem navega e lava
o pensamento leva
o corpo todo como um barco
um rio que não tem beira
um remo que não tem eira
por um fio abismo cachoeira
onde deságua se não tem lugar
e não tem margem só o olho d'água
brota espelho molha o azul do céu
ouve, só se ouve ouvir
o mar só se ouve quem
de longe lá de onde vem a praia
o mar daqui se ouve bem
de dentro ecoa a água
que deságua no azul vazio
serpente, serpenteia o rio
a maré é que mareia o mar
percorre corre em minha veia
a correnteza o coração bombeia
o mar navega e lava
o pensamento leva
o corpo todo como um barco
um rio que não tem beira
um remo que não tem eira
por um fio abismo cachoeira
onde deságua se não tem lugar
e não tem margem só o olho d'água
brota espelho molha o azul do céu
o olho d'água
brota espelho molha o azul do céu
até que o barco pare de remar

Adaptado de Azul Vazio - Arnaldo Antunes

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