domingo, 6 de março de 2016

dos pássaros...

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"vieram os pássaros
amalgamaram-se as pedras"
Adônis
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um pássaro - porque me lembra o vento



































ouvi hoje
tristemente
que poesia 
são palavras
só palavras
murmurou-se sem tino
sem música 
o tal:
eu
apago
um coração 
a poesia
não
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minhas mãos 
estiveram por ali
tocando um corpo
que não era um corpo
era imagem 
um negativo
de mármore construído 
dentro de mim 
e um entendimento
de palavras sendo só palavras
destituindo a poesia
da sua causa
o corpo era carne
mas meu mármore 
estancado
não se partiu
minha poesia
cresce
enquanto as palavras
se apagavam
num corpo
inerte
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pensando no dia
durante o que à noite houve
lado a lado pensávamos coisas puras 
enquanto ao longo dessas estradas
as mãos se desfaziam
entre flores obscuras 
o jardim de um quarto 
azul
iluminado
era puro 
blues
inacabado
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o fim
é essa chuva lá fora
e um instante
inacabado
alguém encostado na porta
de saída
uma estamparia
num colete sem cheiro algum
o vento a voar com pés de erva
sobre nenhuma nuvem
o fim
são meus desejos manchados
são rosas
que as feridas me criaram
então caminho
feito essa chuva
com uma mão no ar
e a outra vazia
com um
pássaro
ausente
distante
de declarações
entendimentos
e poesia
o fim
é um ocaso
uma chuva
em fim de tarde
nenhum pássaro voa
com as asas
encharcadas
o fim
é o chão
sem alçar
voo
.............


estamparia no seu colete a minha dor "made in china" se fosse verdade

























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