terça-feira, 1 de dezembro de 2015

das limitações...

.
"deixar por fim para trás
sem piedade e nem
dó quebrar isso tudo
que vai por aí e a dor
maior de romper os laços
de golpe cortar as cordas
ao infindável nó górdio"

Ricardo Primo Portugal
.
sobre foto de Bruno Antoniasse 


as pessoas desdenham de nossas pequenas dores. usam uma linguagem levada ao extremo limite, elevada à potência do indizível sarcasmo, como se fosse uma obrigação tornar possível suportar visões e condições que só as almas próprias, ditas fortes, entendem. visões e audições interiores, puras, capazes de ver o invisível e ouvir o inaudível, tornando a dor algo evidente e produzindo um ouvinte ausente porque raramente alguém vê e ouve esse algo grande demais, forte demais, excessivo demais.
os poetas como eu ouvem e sentem isso nos interstícios, nos desvios da linguagem sem um objetivo crítico, clínico ou cínico. fazem captar forças, tornar sensíveis essas dores invisíveis e inaudíveis, e libertar a vida de uma prisão, traçar linhas de fuga.
fazem minimizar a dor através de palavras. doer não é um sarcasmo. se é realidade, deve ser ouvida. essa é uma palavra rara.
a dor.
..................................................................

me escondo 
em branco
no meu cavalo
de Tróia
..................................................................

existem meios 
de se pegar
a vida
com as mãos 
mas mais difícil 
é pegar a vida
com os pés 
eu aprendi
a chutar coisas 
e não agarrá-las
como faz a maioria
chutar o cansaço 
a tristeza
fazer um esforço tremendo
para não chorar
indevidamente 
chutar o choro
como se lágrima 
fosse pedra no meio
do caminho
igual se uma lata
contivesse veneno
e fosse chutada
para longe 
para que esse veneno
não me contaminasse 
mas já vai tarde
porque essa lata
me enferrujou por dentro
e eu ando contaminado 
chutando pedras
para que as coisas
permaneçam no seu
devido lugar
chutar essas latas e pedras
me fazem aprender com os pés 
as mãos não seguram mais nada
já não aguentam muito
ainda que demore
ainda quero andar bastante
ainda quero os pés 
mais que as mãos 
chutando cada droga
de pedra
que me impede
de ter a vida
intacta
..........

nos vejo
em você reconheço
distraídos
num tempo
de criança
a mais pura emoção
entre nós
um futuro imenso
e tão denso
que deixou 
um sabor
entre nós
nos vejo
como de fato crianças
um começo
de um grande futuro
imenso
de deixar um sabor
de tão denso
vai deixar um sabor
entre nós



..................................................................

Nenhum comentário: