quarta-feira, 7 de outubro de 2015

dos remédios...

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"por que não dura a inteireza?"
Elizabeth Hazin

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mulher negra pinta de azul-violeta as unhas
há jaguares
sob a pele
mímica
de esfinge
nos pulsos
limpa voz animal raio-de-pedra 
golpeia nudez possível
reflexo de luz
orquídea
ou seio-
noite-
flor-
que incandesce
(seus colares
de relva;
riscos
gravados
na pele
sortilégio)
(pintura: mascar o carvão leonino Frida
mulheres e quadros
verdades na
epiderme
ruminando
arenoso
desse espelho
até cantar
ávida
Magda)

adaptado de Leoa, Clavícula de Cláudio Daniel
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esse cara...
eu não costumo gostar
quando alguém olha nos meus olhos
e ele faz isso quase o tempo todo
mas ele tem algo especial
quando ele olha 
eu não me importo
eu só olho de volta
e rapidamente
fico tremendamente excitado 
é como se ele lesse minha mente
ou eu lesse a mente dele
eu não sei
é uma via de mão dupla
adoro isso
é uma espécie de amor
eu não me refiro ao amor do tipo
"eu o amo e quero casar com ele"
não estou pensando neste tipo de coisa
e ele nem pode
nem eu
acho que quando digo amor quero dizer
sabe
é como se eu estivesse fazendo amor com ele
e quando for possível fazer esse amor
todos os aborrecimentos desaparecerão
seremos só eu e ele juntos
e sim
eu me perderei nele
e ele se perderá em mim
e nós dois juntos
nos perderemos
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ponho por acaso
um conto
final
antes de continuar
com
tudo
antes de outro
contraponto
¿
sempre esse eu
indeciso 
com
vírgulas
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naquele dia eu estava com frio
eu era o frio
e achei em minhas veias 
uma palavra
a palavra trazia
poemas inteiros
mas o que eu queria mesmo 
era alguma coisa para
abraçar 
queria que tudo saisse do lugar
e não voltasse 
mais
queria escolher
antes de me encolher
de frio
eu queria entender
os abraços 
dos outros 
esses abraços grandes
fora do meu
alcance
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eu não gosto 
de explicar palavras 
porque explicar 
afasta
poesia
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poesia é esclarecer coisas
que nunca senti
e escrever
o sentimento
que desaparece
antes que a palavra
acabe
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eu gosto do lado absurdo das imagens
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o sol com piscina
nas casas da memória 
uma luz no chão 
faz poesia
num abraço 
lembro de coisas
que não tive
esse meu lado
que me empresto
agora
dedico a mim
o meu relento
e me entrego
tranquilo
ao meu próprio 
abandono
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o olfato pensa em deus
o paladar pensa em deus
o tato pensa em deus
a visão pensa em deus
já os sexos
pensam
o que serão dos 
deuses
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parte 
íntima:
a arte
íntima 
e seus
documentos
pessoais
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prestando mais atenção nas vias de mão dupla
e pessoas de mão

única
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