"Amigo, te amo.
Te amo pela sua escuridão.
Te amo pela sua cegueira e, pela sua compaixão.
Te amo no (in)verso de roma.
Te amo na singularidade frágil da linha que te equilibra.
Te amo porque é esquisito, errado e inteiro.
Te amo porque é versado e inverso das humanidades.
Te amo, porque você me ama e, portanto, logo te amo mais."
#presentepoema
por Vini Miranda
.
estacão Paraíso do metrô - 19/04/2015 |
amarvegar
para Guadalupe
aprendi a disfarçar a dor
a pelo menos tentar
e tenho uma tristeza que me acompanha sempre
desde o dia em que tudo mudou
e já fazem vinte anos.
sei que muitos não iriam querer saber
que sinto essas coisas
e talvez seja por isso eu tento viver tão bem
tem dia que é foda
geralmente acontece quando alguém
ou alguma coisa
te lembra que não tem jeito
que aquela pessoa que você amava profundamente
não vai viver ou vai ver de novo
por mais que a medicina, o destino
a ciência e a tecnologia avancem tanto
acabou, finito, já era, zerou
o mundo daquela pessoa
ou o mundo como era
nunca mais vai encontrar o seu
por isso mantenho as luzes acesas
esse escuro por dentro
tem um farol
e minhas almas mares
pelas tempestades ainda são navegáveis
tristezas muitas
tantos quantos os cais
mas sorte
é que existem muitos mares
agarrados à esses cais
......................................................................................
Agradeço:
e tem esses espelhos
todos esses espelhos
que dizem uma idade
que não sinto que tenho
nas claridades
e nas escurezas
algo por dentro não acompanha
o tempo
algo que não passa
um tempo imóvel
feito de teias raras
talvez força
talvez fé
talvez aquele algo chamado
deus
talvez deus
não envelheça como físico
por isso a alma
nova
sempre com um modo
poético
lírico
cínico
de
re
ver
ter
tudo
por esses espelhos
vejo que o dentro
diz que o fora
atrai
o bom de todos
todos que se lembraram
escreveram
falaram
riram
e dançaram comigo
pelos meus cinquenta
jardins de infância
não existem palavras
e eu como ainda criança
encantado
abraço a todos
abraço esses espelhos
que nada mais são
que a resposta
do melhor de mim
e deste outro lado do espelho
fica
este sentimento bruto que
por falta de ideia melhor
decidi chamar
amor
......................................................................................
dezenove
somos todos
índios
rituais
viciados
xamãs
médicos
ancestrais
parentes de sangue
diferente
tambores
barulho
na rua
na cidade
os civilizados
vestidos
pela vergonha
não andam
nus
os índios
de qualquer
nacionalidade
civilizadamente
ficam
nus
(corpo e pele
tingidos
com tinta
de vida
transparente)
......................................................................................
o apego
(alguns)
nunca
se apaga
mesmo
às avessas
......................................................................................
maturidade
poético-literária:
não troco
cinquenta tons de cinza
pelos meus
cinquenta anos
de poesia
......................................................................................
aos cinquenta
trocando
a tônica dos
dias
por água
tônica
......................................................................................
passo mel na ponta
dos dedos
para escrever
este texto
a idade chega
e daí?
mudou a cara e a coragem?
mudou o tempo
mudou quem?
a chuva é a mesma
e eu continuo dedilhando
pássaros
nos joelhos
não é que nada tenha
mudado
sou eu que
virei
o tempo
......................................................................................
meu inferno
astral antes
dos cinquenta
não foi nenhum inferno
quem dera a astrologia
fosse sempre
uma certeza
errada
não houve inferno
e aconteceu
a calma
maisquesperada
talvez
por não ver nada
a vida
quem sabe
certa
continue
ilesa
......................................................................................
cara
ou
coroa?
aos cinquenta
ainda
escolho
cara
......................................................................................
mar adentro
você me olhou
com meus olhos de dentro
um olhar mais atento
mar ardendo
feito nossos
sais
......................................................................................
nenhuma
invenção humana
se equipara
a essa máquina
chamada
poesia
.
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