terça-feira, 21 de abril de 2015

dos cinquenta...

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"Amigo, te amo. 
Te amo pela sua escuridão. 
Te amo pela sua cegueira e, pela sua compaixão. 
Te amo no (in)verso de roma. 
Te amo na singularidade frágil da linha que te equilibra. 
Te amo porque é esquisito, errado e inteiro. 
Te amo porque é versado e inverso das humanidades. 
Te amo, porque você me ama e, portanto, logo te amo mais."

‪#‎presentepoema‬

por Vini Miranda 

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estacão Paraíso do metrô - 19/04/2015




































amarvegar
                         para Guadalupe

aprendi a disfarçar a dor
a pelo menos tentar
e tenho uma tristeza que me acompanha sempre 
desde o dia em que tudo mudou
e já fazem vinte anos. 
sei que muitos não iriam querer saber 
que sinto essas coisas 
e talvez seja por isso eu tento viver tão bem
tem dia que é foda
geralmente acontece quando alguém 
ou alguma coisa 
te lembra que não tem jeito
que aquela pessoa que você amava profundamente 
não vai viver ou vai ver de novo
por mais que a medicina, o destino
a ciência e a tecnologia avancem tanto
acabou, finito, já era, zerou
o mundo daquela pessoa
ou o mundo como era
nunca mais vai encontrar o seu
por isso mantenho as luzes acesas
esse escuro por dentro
tem um farol
e minhas almas mares 
pelas tempestades ainda são navegáveis
tristezas muitas
tantos quantos os cais
mas sorte 
é que existem muitos mares 
agarrados à esses cais
......................................................................................


Agradeço:

e tem esses espelhos
todos esses espelhos 
que dizem uma idade
que não sinto que tenho
nas claridades 
e nas escurezas
algo por dentro não acompanha
o tempo
algo que não passa
um tempo imóvel 
feito de teias raras
talvez força 
talvez fé 
talvez aquele algo chamado
deus
talvez deus 
não envelheça como físico 
por isso a alma
nova
sempre com um modo
poético 
lírico 
cínico 
de 
re
ver
ter
tudo
por esses espelhos
vejo que o dentro
diz que o fora
atrai
o bom de todos 
todos que se lembraram
escreveram
falaram
riram 
e dançaram comigo
pelos meus cinquenta 
jardins de infância 
não existem palavras
e eu como ainda criança 
encantado
abraço a todos
abraço esses espelhos
que nada mais são 
que a resposta
do melhor de mim
e deste outro lado do espelho
fica
este sentimento bruto que
por falta de ideia melhor
decidi chamar 
amor
......................................................................................

dezenove 
somos todos 
índios 
rituais
viciados
xamãs
médicos 
ancestrais
parentes de sangue
diferente
tambores
barulho 
na rua
na cidade
os civilizados
vestidos
pela vergonha
não andam
nus 
os índios 
de qualquer
nacionalidade
civilizadamente 
ficam
nus 
(corpo e pele 
tingidos 
com tinta 
de vida
transparente)
......................................................................................

o apego
(alguns)
nunca 
se apaga
mesmo
às avessas
......................................................................................

maturidade
poético-literária:

não troco 
cinquenta tons de cinza
pelos meus 
cinquenta anos 
de poesia
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aos cinquenta
trocando
a tônica dos
dias
por água 
tônica
......................................................................................

passo mel na ponta
dos dedos 
para escrever
este texto
a idade chega
e daí? 
mudou a cara e a coragem?
mudou o tempo 
mudou quem?
a chuva é a mesma
e eu continuo dedilhando
pássaros 
nos joelhos
não é que nada tenha 
mudado
sou eu que 
virei
o tempo
......................................................................................

meu inferno 
astral antes 
dos cinquenta
não foi nenhum inferno
quem dera a astrologia
fosse sempre
uma certeza
errada
não houve inferno 
e aconteceu
a calma
maisquesperada
talvez
por não ver nada
a vida
quem sabe
certa
continue
ilesa
......................................................................................

cara
ou
coroa? 
aos cinquenta
ainda
escolho
cara
......................................................................................

mar adentro 
você me olhou 
com meus olhos de dentro
um olhar mais atento
mar ardendo
feito nossos
sais
......................................................................................

nenhuma
invenção humana 
se equipara 
a essa máquina 
chamada 
poesia
.

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