"e o que foi a vida?
uma aventura obscena
de tão lúcida"
Hilda Hilst
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cúmplices
a vida e eu
e o que é a vida?
uma sucessão
de pequenas
sortes onde não faço
do difícil o meu ofício
e anda súbita
por trás dos vidros
a óculos vistos
e outras vidraçarias
e vitrais
eu faço tudo
o que posso fazer
eu lanço para os deuses
essa alma incendiária
e que eles a aumentem
para criar
versos
desse deus poema
que ajoelha e me adora
e não faz disso alarde
o silêncio
é meu poema
mais verdadeiro
está em um nada
ainda não escrito
e cheio de disfarces
vivo com a intensidade da arte
que deus tenha pena
desse silêncio
que acredito
esse poema maldito
calado
possivelmente
atropelado
com todo gozo
no meio da rua
desgarrado
do meu manancial
de palavras
essa poesia toda
destoada
é minha
realidade
imaginada
onde vivo
por trás dos vidros
tentando em vão
possuir
o que me possui
esse ser de silêncio
muito maior do que eu
evita as pistas duplas
e as janelas abertas
já não basta ontem
ter vomitado
todos esses silêncios
nas mais diferentes formas
e enjoos
enojado com esses seres
desumanos
e cansado
de conviver com seres da sombra
que se apegam à vida
assim que se sentem
necessários
esse enjoo
passou
depois fiz um chá
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e então praticar tudo
bem ou mal
mas repentinamente
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todas as estações
mais as infinitas...
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atônitos
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