quarta-feira, 30 de outubro de 2013

das respirações...

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"Noto nos poetas brasileiros das safras mais recentes uma contenção talvez ainda mais severa que a do tempo em que a mais importante das bandeiras era empunhada contra a poesia piegas e edulcorada. Sinto em muitos poetas de hoje uma tendência à geometrização, à valorização do visual, uma afinidade com a pintura e a escultura. Parece que vivemos o mesmo momento que precedeu o concretismo. Há um pudor de sentir, de exprimir o sentido. O poema não se escreve, distribui-se na página em blocos exatos, científicos quase. Os poetas novos temem ser acusados de ingenuidade e protegem-se dela com areia, tijolo, cimento e cal. Alguém emocionar-se com algum poema de qualquer um deles é fazê-los passar pela vergonha suprema. João Cabral de Melo Neto contribuiu um bocado para isso. Vista sob a perspectiva da época em que ele construiu sua obra (e construir me parece o verbo adequado), ela tem uma justificativa que agora talvez não se sustente mais tão bem. Dirigida cada vez mais à razão que à sensibilidade, a poesia anda fazendo feio nas livrarias e, se alguém perguntar a um atendente qual seria o poeta moderno mais indicado, a resposta provavelmente será Carlos Drummond de Andrade."
RAUL DREWNICK






























desaguar
a palavra
em rio
até chegar no mar
feito poesia

continuo os passos
que vêm de longe

enquanto isso
a maré avança
alma adentro

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é a sensação constante do fim que deixa a vida com ar oblíquo
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o medo da solidão pode nos tornar acessíveis
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não ter resposta é confirmar-se ausente
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a morte 
pretende
chegar
ao THE END
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eu brinco de ser poeta para aprender a me levar a sério
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a palavra dói em cada curva pois o som é bisturi que rasga o poema 
e faz nascer o choro contínuo a lavar o peito
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tenho raiva dessa poesia maldita em mim agarrada o tempo todo aos meus desejos 
- essa tatuagem
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gestar o poema é difícil; parir mais ainda. alguns poemas querem nascer antes do tempo, prematuros. 
o poeta precisa estar em paz com seu mundo interior para gozar de uma saudável fertilidade
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respirar
é uma atividade
liter (ar) ia
extra
curricul (ar)
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nem cristo, nem cruz, nem deus, nem adeus
só um tchau e olhe lá
nenhum lenço branco
um outro lado de costas
oposto
e só
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bom de serviço:
todo poema 
tem que ter 
fim e início
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amou tá amado
amarrou tá danado
cada um que se cuide
e o outro que entre 
em pane
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tudo cai 
quando se pega:
passarinho
flor
ou doença
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algo mudou em mim: 
um nunca mais
algo mudou DE mim: 
algum nunca mais
alguém nunca mais
- se o fim existe, que ele exista em absoluto
algum jamais

Julio Carvalho & Raffab Viana
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