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“O belo não é senão o começo do terrível.”
Rainer Maria Rilke
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por isso vinte
começo:
não consigo
me encaixar nas beiradas da vida
e tudo me põe
em excessos
no momento
dos mínimos.
tudo me
coloca errôneo
nos momentos
de calma.
do nada sou
possível
Por isso tenho vinte reais
e uma calça caindo
Por isso emagreci
de tanto cansaço
e acessos múltiplos
de raiva
de raiva
o dinheiro não vem nunca
e devo favores
como quem tem sede.
como quem tem sede.
me alimento das esperas
e dessa raiva que me sustenta.
Por isso vai durar
Por isso vai durar
até que tanto?
quais mais perdas
me aguardam
me aguardam
por perto?
Por isso mesmo
que hajam outras
nas primeiras noites
que hajam outras
nas primeiras noites
que foram escurecidas
de propósito
pela desumanidade
dos outros.
Por isso revólver:
se houverem perdas
que sejam sem surpresas.
tenho dias em que amanhecer dói
de propósito
pela desumanidade
dos outros.
Por isso revólver:
se houverem perdas
que sejam sem surpresas.
tenho dias em que amanhecer dói
quem inventou esse dia
e me deixou perdido dentro dele?
maldito dia que cavalga lento e enorme
abrindo pausas para o silêncio passar
(ter vida e errar não é defeito)
meio:
meio:
a calma fede
a calma tem cheiro de coisa normal
a calma deveria ser abolida
a calma deveria ser a loucura verdadeira
a calma é a alma em estado de nada
Por isso comigo
tudo é quieto e insuficiente
tudo é quieto e insuficiente
e o triste do meu coração
é que ele confunde o ato de estar vivo
ao de estar amando
Por isso vivo tão errado
Por isso trago a conta perdida
de cada segundo da minha vida
misturada
nessa imensidão de poros
do enorme lençol de pele
que me embrulha os ossos
Por isso doente
pelo contorno de tudo
o que há em mim:
algumas vezes excessos
outras confundem vazios.
tenho profundidades
onde nem chego perto
tamanho é o afogamento.
depois eu choro
agora estou raso
fim:
por que não me deixam enlouquecer em paz?
quero enlouquecer
quero melhorar essa falta de insanidade
quero olhar pelos olhos dessa imoralidade
divina
cuspir até cegar os olhos dos normais
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