segunda-feira, 29 de outubro de 2012

dos vinte...


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O belo não é senão o começo do terrível.  
Rainer Maria Rilke
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furia
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por isso vinte

começo:
não consigo me encaixar nas beiradas da vida
e tudo me põe em excessos
no momento dos mínimos.
tudo me coloca errôneo
nos momentos de calma.
do nada sou possível

Por isso tenho vinte reais 
e uma calça caindo
Por isso emagreci 
de tanto cansaço
e acessos múltiplos
de raiva
o dinheiro não vem nunca
e devo favores 
como quem tem  sede.
me alimento das esperas
e dessa raiva que me sustenta.
Por isso vai durar
até que tanto?
quais mais perdas 
me aguardam
por perto?
Por isso mesmo 
que hajam outras 
nas primeiras noites
que foram escurecidas 
de propósito 
pela desumanidade
dos outros.
Por isso revólver:
se houverem perdas
que sejam sem surpresas.
tenho dias em que amanhecer dói
quem inventou esse dia 
e me deixou perdido dentro dele?
maldito dia que cavalga lento e enorme 
abrindo pausas para o silêncio passar
(ter vida e errar não é defeito)

meio:
a calma fede 
a calma tem cheiro de coisa normal
a calma deveria ser abolida
a calma deveria ser a loucura verdadeira
a calma é a alma em estado de nada

Por isso comigo 
tudo é quieto e insuficiente
e o triste do meu coração
é que ele confunde o ato de estar vivo
ao de estar amando
Por isso vivo tão errado
Por isso trago a conta perdida
de cada segundo da minha vida
misturada
nessa imensidão de poros
do enorme lençol de pele
que me embrulha os ossos
Por isso doente
pelo contorno de tudo
o que há em mim:
algumas vezes excessos
outras confundem vazios.
tenho profundidades
onde nem chego perto
tamanho é o afogamento.
depois eu choro
agora estou raso

fim:
por que não me deixam enlouquecer em paz?
quero enlouquecer
quero melhorar essa falta de insanidade
quero olhar pelos olhos dessa imoralidade divina
cuspir até cegar os olhos dos normais
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