quarta-feira, 24 de outubro de 2012

dos esféricos...

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Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto
alguma coisa da vida que eu vejo e que não sabia. Só escrevo assim. 
Estou na praia, lembro do meu filho que morreu. 
Ele via aquele mar, aquela paisagem. 
Hoje estou vendo por ele. Aí começo um poema 
Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos. 
Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa.
O mundo aparentemente está explicado, mas não está
Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. 
Mas nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. 
Então de vez em quando o não explicado se revela, 
e é isso que faz nascer a poesia. 
Só aquilo que não se sabe pode ser poesia.
Com o avanço da idade, diminuem a vontade e a inspiração. 
A gente passa a se espantar menos. 
Tem poeta que não se espanta mais, mas insiste em 
continuar escrevendo, não quer se dar por vencido. 
Então ele começa a escrever bobagens ou coisas 
sem a mesma qualidade das que produzia antes. 
Saber fazer ele sabe, mas é só técnica, falta alguma coisa. 
Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer comigo. 
Sem o espanto, eu não faço.
Escrever só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. 
O poeta que tem dentro de mim também. Tudo acaba um dia. 
Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais. 
Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer. 
Toda vez que publico um livro, a sensação que tenho 
é de que aquele é o definitivo. 
Escrever um poema para mim é uma grande felicidade. 
Se não acontecer, não aconteceu.
Ferreira Gullar
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who will love you now
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Poeminessências

No mundo poético, o tempo é esférico.
Roberval Pereyr

inocente é quem acredita que o poeta é um ser polido
o poeta é aquele que mantém fixo o olhar no tempo,
para nele perceber não as luzes, mas o escuro
o poeta é aquele que sabe ver essa obscuridade:
é das sombras do tempo
que o poeta retira a matéria prima
para a poesia
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