“Aqui poucas letras bastam
pois todo o resto é como papel em
branco.”
Manuel da Nóbrega – Carta 8 (1549)
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é necessário para mim
este pão
dos pontos
dos poemas
atrás dos muros
dentro dos rios
onde esconder
é igual encontrar
sou meio atrapalhado
mas queria ser inteiro
agora
minha palavra
é um pássaro
calado
eis o poema
reclamando
novamente seu lugar
pedindo-me um cálice
para enchê-lo uma vez mais de
agulhas
de tempo transparente
de lágrimas
por que fico trancado no quarto?
para não escapar meu maior grito
eu me fecho bem onde os meus
gritos se escondem
é um desespero atrás de qualquer
porta
ninguém abrirá
chamar é perder lágrima
perder tempo
cada dia é uma pedra ou porta
hoje como é um dia diferente
a pedra é outra
e sempre a mesma porta
e sempre a mesma porta
antes da poesia
preciso dormir
preciso ir ao banheiro
urinar
antes da poesia
preciso me livrar de tudo
a poesia não precisa de necessidades
modéstia a parte
sou exagerado em matéria de poesia
e em matéria de matéria desgarrado
o imprevisto
nasce líquido
sem rótulo
não tenho nada comigo
só o medo
e medo não é coisa que se tenha
melhor mesmo é jogar o medo fora
dentro de uma bolsa de futuros
sexo: entre o simples e o
completo
promessa:
vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear
mas faço valer cada pena
dos pássaros encarcerados
nos seus dias
quero estar
onde se pode
respirar
diário de bafos:
sua respiração não
me inspira nada
pedaços de livro
entram pela minha
boca
a digestão da poesia
é lenta
- o resto são vísceras
quero a dor doendo
em mesmo pé de igualdade
com o amor se abrindo
tem jeito?
a escuridão exige tato
a iluminação exige contato
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