sexta-feira, 5 de outubro de 2012

dos bastantes...


“Aqui poucas letras bastam
pois todo o resto é como papel em branco.”
Manuel da Nóbrega – Carta 8 (1549)
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agora
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ilustração de palavrahabitada.wordpress.com
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é necessário para mim
este pão
dos pontos
dos poemas
atrás dos muros
dentro dos rios
onde esconder
é igual encontrar

sou meio atrapalhado
mas queria ser inteiro

agora
minha palavra
é um pássaro
calado

eis o poema
reclamando
novamente seu lugar
pedindo-me um cálice
para enchê-lo uma vez mais de agulhas
de tempo transparente
de lágrimas

por que fico trancado no quarto?
para não escapar meu maior grito
eu me fecho bem onde os meus gritos se escondem
é um desespero atrás de qualquer porta
ninguém abrirá
chamar é perder lágrima
perder tempo
cada dia é uma pedra ou porta
hoje como é um dia diferente
a pedra é outra
e sempre a mesma porta

antes da poesia
preciso dormir
preciso ir ao banheiro
urinar
antes da poesia
preciso me livrar de tudo
a poesia não precisa de necessidades

modéstia a parte
sou exagerado em matéria de poesia
e em matéria de matéria desgarrado

o imprevisto
nasce líquido
sem rótulo

não tenho nada comigo
só o medo
e medo não é coisa que se tenha
melhor mesmo é jogar o medo fora
dentro de uma bolsa de futuros

sexo: entre o simples e o completo 

promessa:
vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear
mas faço valer cada pena
dos pássaros encarcerados
nos seus dias

quero estar
onde se pode
respirar

diário de bafos:
sua respiração não
me inspira nada

pedaços de livro
entram pela minha 
boca
a digestão da poesia
é lenta
- o resto são vísceras

quero a dor doendo
em mesmo pé de igualdade
com o amor se abrindo
tem jeito?

a escuridão exige tato
a iluminação exige contato
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