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“Velho é criança de fôlego diferente.
Já não lhe interessam as correrias nos jardins,
o sobe e desce das
gangorras, o vaivém dos balanços.
É tudo muito pouco. O que ele quer agora é desembestar no céu,
soltar os bichos que colecionou a vida inteira.
Os bichos
todos - domésticos, selvagens, úteis e nocivos.
Os pesados répteis que ainda guarda no coração
e as borboletas, peixes e passarinhos,
tudo
solto lá em cima!”
Francisco Azevedo
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Estranho
esse entendimento de lugar. É como se eu contivesse tudo.
Entender até do absurdo. Sem falar muito.
Mudo.
Passo
apertado na vida porque não há sobras. Eu me con_sumo.
Estou
num mundo sozinho de dentro. Quem
entende?
Aqui
vivo o vacilo de um vício que não me convence.
Adivinhação é perder a chuva e saber do estio em plena luz do dia.
Desfazendo
enganos. Refazendo engodos.
Emprestei
meu rosto para outro espelho.
Emprestei meu gosto para outro. Estou velho.
Estou na idade das ideias emprestadas.
Para
onde você esta vindo?
Alinhou
a vida. Alinhavou com a morte. Pura falta de sorte.
natureza
morta / natureza torta
Tenho
tentado me encontrar. Por enquanto só linhas.
Algum rascunho já basta.
Tive
um convívio intimo no dia de hoje com meus pés:
meias molhadas de chuva.
Estava
fraco. Entendi a lama, as pedras e uma mão aberta.
Sorri feito
praga. Ácido e infeliz.
O
tempo entendeu tudo errado: temporada.
Eu
dos degraus igual a vida: só sei mal equilibrar e subir.
Não fiz nada ate aqui. Só escrevi. E muito.
Meu muito é de letras. E basta.
A
sua língua sempre parada no centro da sua boca.
Vicio. Silêncio é vício.
A minha língua anda a míngua.
Um muito mais que cala. Um
pouco mais que fala.
A
poesia da falta de absurdo.
Entranhas:
o estranho oposto em mim.
Morreu?
Não devo mas posso. Vivo por descasos.
Eu sou um homem com um único inferno.
Errar é comigo mesmo: eu vivo o desencontro dos erros.
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