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"quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
este amor é de guerra. (de arma branca).
amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
quatro letras nos matam quatro facas.
armado estou de amor. E desarmado.
morro assaltando morro se me assaltas.
e em cada assalto sou assassinado.
quatro letras amor com que me matas.
e as facas ferem mais quando me faltas.
quatro letras nos matam quatro facas."
As facas - Manuel Alegre
In:_____. Coisa amar (coisas do mar).
Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1976
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animais
são livros
de quatro
patas
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essa poluição toda
produzindo
borbolentas
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entre
o desejo
do outro
de mim
e dos mesmos
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seres
rebeldes
na busca
da poesia
íntima
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"desoriento-me
sem qualquer
método
ou sem
qualquer fim
vou e não vou
mas vou
caio sem qualquer
alarde
o que é
e não é: mas é
desorientar-me
é meu anti-método"
Sebastião Uchoa Leite
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milhões de vezes
me viro
para o lado dos meus sonhos
evitando
respostas
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vazios de coisas
que
contém glúten
mas não contém
ar
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dias em que
viver
é ter um veneno
em tempo
real
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o verde do mundo
agora
é um escarro
ardente
da civilização
............................................................
sair por aí
a cumprir
solenemente
um purgatório
cínico
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quando algo é
perfeitamente
sério
me faz mais
cético
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meu enunciado
é em pedra
para exemplificar
temores
como represas
temo que amanhã
seja mais difícil
apelar para a caridade
vai ter muita boca seca
implorando água corrente
e muita terra podre
contaminada
sem gente
meu enunciado
é em pedra
para ficar
permanente
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dê um quando
no seu calendário
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saio de casa
para desaguar
na chuva
em dias assim
o meu silêncio
fica
em
gotas
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a soma secreta
enquanto engulo
a rotina
das contas do dia
repondo meus saldos
a poesia que faço
agrava
sentimentos expressos
como um rascunho
uma dor entre palavras
camuflando o medo
na boca do estômago
falta tanto aconchego
que até o esquecimento
adormece
e fico a noite toda fora
aguardando estrelas
até quando
no despertar
eu viro
manhã
............................................................
chuvisco faz bem
para lavar a alma
aos poucos
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lanço-me
na peripécia dos desencontros
enquanto lanço
distraio
a lama por dentro
subo rios
intermináveis
a roupa suja
atiro no chão
e a pele saudável
respira
limpa
ecologicamente
poética
....................
quinquagésimo quinto mínimo
Há 13 anos
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