terça-feira, 24 de novembro de 2015

das confusões...

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"quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
este amor é de guerra. (de arma branca).
amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
quatro letras nos matam quatro facas.
armado estou de amor. E desarmado.
morro assaltando morro se me assaltas.
e em cada assalto sou assassinado.
quatro letras amor com que me matas.
e as facas ferem mais quando me faltas.
quatro letras nos matam quatro facas."

As facas - Manuel Alegre
In:_____. Coisa amar (coisas do mar). 
Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1976
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animais
são livros
de quatro
patas
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essa poluição toda
produzindo 
borbolentas
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entre
o desejo 
do outro 
de mim
e dos mesmos
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seres
rebeldes 
na busca
da poesia
íntima
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"desoriento-me
sem qualquer
método 
ou sem
qualquer fim
vou e não vou
mas vou
caio sem qualquer 
alarde 
o que é
e não é: mas é 
desorientar-me
é meu anti-método"

Sebastião Uchoa Leite
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milhões de vezes
me viro
para o lado dos meus sonhos
evitando 
respostas
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vazios de coisas
que
contém glúten 
mas não contém 
ar
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dias em que
viver 
é ter um veneno
em tempo 
real
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o verde do mundo
agora 
é um escarro
ardente 
da civilização
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sair por aí 
a cumprir 
solenemente 
um purgatório 
cínico
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quando algo é 
perfeitamente
sério 
me faz mais
cético
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meu enunciado 
é em pedra
para exemplificar
temores 
como represas
temo que amanhã 
seja mais difícil 
apelar para a caridade
vai ter muita boca seca
implorando água corrente
e muita terra podre
contaminada
sem gente
meu enunciado 
é em pedra
para ficar 
permanente
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dê um quando
no seu calendário
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saio de casa
para desaguar
na chuva
em dias assim
o meu silêncio 
fica 
em
gotas
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a soma secreta
enquanto engulo
a rotina
das contas do dia
repondo meus saldos
a poesia que faço 
agrava
sentimentos expressos 
como um rascunho
uma dor entre palavras
camuflando o medo
na boca do estômago 
falta tanto aconchego
que até o esquecimento
adormece 
e fico a noite toda fora
aguardando estrelas 
até quando
no despertar
eu viro
manhã
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chuvisco faz bem 
para lavar a alma 
aos poucos
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lanço-me
na peripécia dos desencontros 
enquanto lanço 
distraio
a lama por dentro
subo rios
intermináveis 
a roupa suja
atiro no chão 
e a pele saudável 
respira
limpa
ecologicamente 
poética
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