das maresias...

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"ouve
com os olhos.
sei que os olhos têm
uma audição própria.
espero que o som seja
o mesmo
ou se assemelhe
ao roçar da língua
no ouvido...

veja,
é só uma questão
de ouvir de dentro.
preste atenção
ao que te digo
e não ao som
do que digo"

Em Mãos - Rachel Ventura Rabello
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sofro 
de medos urbanos
públicos 
e abandonos 
particulares
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minha nova tarefa
é descobrir
a equação da escuridão 
parcial
e como viver
sem olhar
direito
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a neutralidade
a nulidade
é vício
é julgo
toda poesia que vai
é volta

com Raffab
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coma profundo
soma profunda 
de restos
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nenhum homem
é feito só de redes
de veias
de artérias 
de rascunhos
para ter um corpo 
é preciso respiração 
para ter um corpo
é preciso ter pulsação 
músculos 
cartilagens
articulações 
para ter um corpo 
é preciso
ser excêntrico 
entrar num atalho 
e pesquisar
por dentro
para ter um corpo 
é preciso um tamanho natural
uma sobreposição 
uma química 
de elementos combinados 
sódio
potássio 
pressão sanguínea 
suor
sal
bílis 
fermento
para ter um corpo 
é preciso ter água: 
de dentro 
sangue
de fora
suor
ou
lágrima
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só não falo
que te amo
porque não amo
quem não 
conheço
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perdi o corpo
em auto
retrato
uma imagem
orgânica 
ópera 
digitalizada
marginal
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intro

os homens
constroem 
cidades
para 
desenhar
os mapas

I. próximo

você existe
agora
para desenhar
os outros 
sejam em papel 
ou com luz e sombra 
se desenham instantes 
ou com poema 
ou algum esquema distante
o que se imagina
se torna
mapa
corpocidade
ou
amante

para Rick Barnerschi
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os poemas
são o veículo 
para tudo o que eu faço 
as rodas
rimam
para movimentar
palavras
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no princípio 
era o silêncio 
e medo
a primeira vez
que escrevi
foi coragem
e poesia
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a todos dedico minha
história 
a todos os que quase me aniquilaram 
(simultaneamente
os mesmos que me ressuscitaram
e me trouxeram de volta
aqui)
a todos que me tornaram 
possível 
eu
Poeta 
conto convosco
para virarem poemas
junto comigo
vocês habitantes 
e vocês 
leitores 
cada um no seu lugar
particular 
frente a qualquer poema
neste preciso momento
em que escrevo
este poema
desejando que através 
dos seus olhos
que estas sejam palavras
introdutórias 
aos mistérios 
poéticos 
que possam
finalmente
compreender
os parâmetros 
da Poesia
e em conjunto
mudaremos
o curso da Palavra
através das leis
do Coração
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vezes em que
tudo tem 
uma luz tão forte 
que a gente
tem que apagar
a realidade 
para
sonhar
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aqui chove a cântaros
linda palavra 
aliás 
canto a cântaros 
lágrimas de luz
pelos cantos
pelos quatro cântaros
do mundo
prezo por todas as dores
e as coisas
por dentro dos cântaros
os cantos de amor
os cantos de dor
e os cantos de luz

para Beto Firmino
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os pássaros 
invisíveis 
e seus
acontecimentos 
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a poesia vira
e ouve-se 
seu
outro
lado
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a lei da chuva
mantém a gente
dentro de casa
ou fora 
sob os telhados
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esse coração
se não na boca
anda na mão
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maresia:
essas 
ondes 
ondas 
desandam 
onde?
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