quarta-feira, 15 de julho de 2015

dos teclados...

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“Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor:
onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito:
em que direção se vai?”
Adélia Prado - O Coração Disparado
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poemas vitrificados

ando
com a necessidade
de confiar
no chão
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teria uma cor alegre de fuga
se não fosse essa vida cinzenta
presa aos meus pés
pensaria em breve
em nunca estar no mesmo lugar
porque as cores sempre iguais
incomodam como sombra
não vou porque ainda
quero o que fica
e se eu fugir agora eu sumo
e não posso fingir
que estou cego
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a minha certa
arrogância
vem da distância
dessa determinada
coisa entre as pessoas
e eu
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anhangabaú

aí vem aquela sensação estranha
de que tudo vai se acabar
o dia
a bateria
o som da rua
aquele que incomoda
alguma coisa
neste vale
que se desdobra
ainda que tudo no mundo
se abra
sempre falta
uma porta
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suor de sombra
é suor que falta
suor que sobra
é suor de sombra
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não se guarda
não se aguarda
a chuva
passa
onde
o sol
é pouco
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a luz
suicida
incide
no pôr
do
sol
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eu tenho
meu peito
coração
feito
extintor
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"Para ser brutal, é preciso certa honestidade"
Cristian Ceresoli


Talvez eu não veja a violência com uma função mecânica,
talvez exista a necessidade de ser brutal e, para ser brutal,
você também precisa de certa honestidade 
e compreensão humana das atrocidades.
Ou compreensão da natureza humana, e da alegria.
Muitas vezes escrevo inspirado por uma tentativa desesperada de sair da lama,
constituída pelos produtos mais recentes 
do genocídio cultural
desde que a moderna sociedade de consumo 
começou a tomar forma.
É um medo de me afundar. 
De perder algumas essências e delicadezas.
Contra essa lama, esse visgo, às vezes, é preciso certa violência.

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Stefanie Harjes


de verdade
na poesia
como as coisas
me preenchem
é como se eu tivesse 
um dedo na garganta
ou uma hemorragia
por isso
quase todo poema
vermelho
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eu nunca tive conhecimento da regra
pra mim ela sempre foi cega
hoje
vejo as meias verdades
e desabilito
piso em pés desconfiado
ouço
ovos e não quebro cascas
regras se escondem
em um chão
de vidro
que eu nem vejo
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eu amo certas coisas e não posso falar sobre elas
eu espio outras coisas pra não encontrar com elas
de longe eu desejo essas vontades-vitrines
não toco
pra não precipitar
uma chuva
de desvios
- mudando de assunto -
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suspeite sempre do que você deseja
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passando pelo viaduto
diminui de tamanho 
tanto
porque nesse momento
havia na avenida
um tráfego
praticamente
infinito
e um barulho tão intenso
que só meu silêncio 
deu permissão
para passar
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"o verdadeiro caminho
passa por uma corda
que não está esticada no alto
mas bem rente ao chão
parece mais destinada a fazer tropeçar
que a ser
percorrida"

Stefanie Harjes
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maldita insegurança
juntando os pedaços
numa pá
e colocando tudo numa caixa
a fim de jogar
com grande impulso
o mais alto possível
e em seguida
pra dentro
do vento
esse sentimento
que aqui não ancora
ficar longe
e imediatamente
sentir
em volta de mim
a maré alta
puxando
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"ridículo como você pôs arreios em si
mesmo para estar no mundo"

Stefanie Harjes


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à margem do mundo
nem se faz necessário sair de casa
fique em sua mesa e escute
nem precisa escutar
apenas espere
nem sequer espere
fique completamente quieto
e sozinho
o mundo naturalmente
se oferecerá
ao desencasulamento
ele acontece de qualquer forma
extasiado
ele irá se contorcer
na sua frente
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os poetas afirmam
que um único poeta
poderia destruir a poesia
isso é indubitável
mas não prova nada contra a poesia
pois poemas significam
precisamente
a possibilidade
de poetas
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tarefa difícil
conservar a calma
estar muito distante
do que a paixão deseja
conhecer o fluxo
e no entanto nadar
contra a corrente
pelo prazer de ser levado
mesmo até correndo perigo
nadar
nadar
e nadar
contra
a corrente
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um
mundo
desenvol

VIDEO
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