quinta-feira, 23 de julho de 2015

das vizinhanças...

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"o passado é uma vizinhança"

Juliana Bernardo
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vejo
pouco
porque
sinto
muito
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"A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos."

Manoel de Barros

essas mulheres
essas mulheres de cabelos maduros
até onde se sabe
já tem muitas histórias
e uma vida
de coisas e objetos
falantes
colares, pulseiras e olhares de jóias
guardam segredos como se fossem vestidos
um mais lindo que o outro
essas coisas de tempo
e aparecem maiores
com filhos
marido e mais coisas contadas
vai-se formando um colar
de contas e coisas
essas mulheres maduras
colecionadoras
de felicidades
e suas coisas eternas
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eu era dois
em quantos
pelos cantos?
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mais vale arrumar a vida
que arrumar a mala
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do osso ao sal
como poeta
sou praia
no sol
salgo
a
palavra
sabor
mais como quem come
mais como quem devora
mais como quem faz
do que
fala
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eu vi a fome
com sede
pois era tanta
que secou a boca
do estômago
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queria entender
costumes
ao invés
de palavras
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engraçado
essa proximidade
entre a alma
e a lama
nesse breve trocar
de letras
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do que é feito o outro
até que esteja morto?
um corpo vivo
é um corpo solto?
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angústia
é quando o mar
cresce pra dentro


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pela solidão
a aranha teia
eu teço
poemas
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nunca dê as costas
para um poeta
ele responde
pela nuca:
a faca vira
palavra
e a língua
sangra
onde o poema
vinga
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meu nome
é um olho
que não tem
cura
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que atitude é essa
de por os olhos além
das coisas
e se assustar
com o silêncio?
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cumpro
por dentro colho
alga
em minha alma
enrosca
um ramo de loucura
deitado
os galhos longos
injetam seiva
a parede
o teto
rejeitam
a sombra
entendo pouco
do que se foi
e menos ainda
dos que ficaram
gota a gota
vou me desentendendo
por gente
.

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