quarta-feira, 29 de julho de 2015

dos anoitecimentos...

.
"filho da mãe
esse poeta
que desde menino
tem medo da lua
aluarada
lua
que pelo ralo
me deito
e não aceito
e me revelo
meio cheio de tudo
desse barulho
de fora
martelo
prego no ouvido
minha alma 
no peito
vira coração
incomodado
de todo
jeito"

Julio Carvalho

Dos Altos dos Céus (ou Dobra do Tempo) - Juraci Dórea












































e então 
eu pisoteei a cara dele 
refiz seu orgasmo com os pés 
e no fim
peguei sua cabeça no meu peito
e disse que eu não era nada
daquilo:
a fantasia 
se cobriu de realidade
e me refiz de verdade
daquela
ilusão
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aDORmecida

levanta mãe 
vem ver como seu filho está 
vem ver como está 
essa coisa por dentro
essa cabeça sem carinho e colo 
pra suportar o que se sentiu
levanta mãe 
pra ver o que sua filha mais velha fez na sua morte
dizendo que não se importava que eu fosse lhe ver
levanta mãe 
pra ver o que sua filha mais nova fez escondendo 
sua sexualidade e negando a minha
levanta mãe 
pra ver seu filho mais novo 
me negar palavras de apoio 
e nunca sequer trocar uma palavra comigo
levanta mãe 
pra ver que sua outra filha 
me deixou sem asilo 
quando de violência ela sofreu 
do próprio marido
levanta mãe 
pra ver seu filho
que diante de tudo isso 
se esforça 
pra não ser igual 
a esses irmãos 
(esforço imenso)
porque como vítima 
(e isso não é mentira)
eu fui salvo
de vários naufrágios
e mesmo sem seu colo
conseguiu sair vivo
levanta mãe 
e volta
agora
pra casa...
....................................................................

o poeta
sem coloridos 
e sem tosca moldura
fossa
muralha 
e os ferros das portas
juntou no esquecimento
o que o abandono guardou
o poeta pede licença
ao sol pede clemência
e se vira como pode
.

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