quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

das citações...

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"Uma transformação recente de que quase ninguém fala é a extinção de algumas palavras.
Pode parecer uma bobagem vernacular, mas não é.
A linguagem (ainda) é a forma mais eficiente para a transmissão de ideias.
Um termo que desaparece ou tem seu significado esvaziado costuma indicar
que são poucos os que ainda pensam no assunto.
"Original", por exemplo, é uma palavra que perdeu importância e vem, aos poucos, perdendo o sentido.
À medida que produtos, serviços e relações são cada vez mais compostas
de ideias e cada vez menos de matéria, ter originalidade perde relevância.
Por mais criativas que sejam, ideias não têm substância.
É impossível encontrar sua semente original, seja para preservá-la ou para destruí-la.
Outra palavra que desapareceu foi o Futuro. Assim, em maiúsculas,
o grande Futuro substantivo, a Utopia para a qual seguiríamos de mãos dadas.
Mesmo sendo fundamental para a construção de praticamente todas as sociedades
e religiões ocidentais, ele vem desaparecendo.
Ainda se fala no amanhã, no porvir,em tempos futuros.
Mas eles são vários, individuais, pequenos.
Falar em um único e abrangente Futuro parece, ironicamente,
uma coisa velha e ultrapassada.
Não se sabe exatamente quando foi que pararam de falar nele.
Desde a metade do século passado, a migração e a urbanização misturaram culturas,
valores e ideais de uma forma sem precedentes, eliminando absolutos e certezas.
E, onde não há unanimidades, não se pode determinar com precisão o caminho a seguir.
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O Paraíso e o Armagedom caminham de mãos dadas.
Eles estão sempre próximos, mesmo que nunca se manifestem.
Em uma economia de ideias, símbolos são mais tangíveis do que originais."

Luli Radfahrer - O fim do futuro - folha@luli.com.br
Fonte: Caderno TEC da Folha de São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010.

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my year in status
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