"amem mais, amém menos"
Ailton Portnoy
o corte
Julio Carvalho e Micelle Della Torre
o tecido é branco
da cor em pele
a pele entrelaçada
de maneira que muitos
não vêem
tecer são os nossos segredos
shhhh (silêncios)
e onde tecemos segredos
fica essa linha delicada de carinhos
um pé de vidro:
um caco de silêncio
procurado na carne
o encontro de fragilidades
potentes & latentes
(lembra que limpei seu corte? - em silêncio eu cantei cuidados)
esse cuidado discretamente presente
esse cuidado
cicatriz
............................................................................
água morna em profunda pedra dura
tanto bate até que assusta
do amor que tu me tinhas
que era puro e se afogou
tenho visto tantas caras e o boi da cara preta
é o que sempre aparece
e tem feito
mais caretas
............................................................................
é por isso que coleciono silêncios - deles vêm minha poesia
............................................................................
se eu sou de minas
e tenho a longitude das praias
vinde a mim as ondas
do som do mar
venham
até meus ouvidos
varando montanhas
............................................................................
a morte para mim é oferta de ocasião
não é remendo de tecido
a morte faz buraco
no pano e no chão
a morte
sempre termina em furo
de reportagem
ou tiro
à queima roupa
toda morte é um buraco
um enterro
dos outros
mas a nossa morte
é invisível
............................................................................
o azul zen
do céu
............................................................................
quero ser igual aquelas pessoas
que
«Navegavam sem o mapa que faziam»
............................................................................
a poesia sobe os últimos degraus
ouço a palavra escrita impessoal
que reconheço já por não ser minha
............................................................................
te exponhas
mas para ninguém
esse é o único
e verdadeiro
espelho
............................................................................
corajoso
na frente
do alvo
............................................................................
os monstros
são as coisas
que não
sabemos
cavalgar
Nenhum comentário:
Postar um comentário