. "os poetas fuzilam pétalas, metem balas, riscam solidão. os poetas atacados de revolução." Romério Rômulo . . relicário
você prefere viver como poeira ou como vento? quero selecionar as mentiras inventadas que eu sei que aqui a todos interessa uma segunda vida necessária mas que infelizmente não existe santificado seja o meu seu nosso outro modo de viver aqui onde não se encontram vestígios de todos os outros meus seus nossos dias perdidos .
. "se acaso em minhas mãos fica um pedaço de oiro volve-se logo falso... ao longe o arremesso... eu morro de desdém em frente dum tesoiro morro à mingua, de excesso." a queda - Mário de Sá Carneiro. . . poetography
escrevia pra abafar a angústia de ser humano pela metade. o poeta antes de tudo ecoa.acordava com pouca alma e dormia com o coração apagado. jogava dardos pro alto, sem alvo. nutria-se do os que desertos ainda retinham de água. procurava oásis pra vencer tudo aquilo.arquitetou alguém, ainda que seja chuva provisória onde brincava de não se molhar.notava nada de novo no silêncio líquido do barco, mas era melhor passar ali que boiar em um campo distraído qualquer. passou um tempo só pensando nisso. desistiu. tinha mais água nos olhos que no mar além. preferiu as águas. mergulhou. .
. "Et tuam ipsius animam pertransit gladius..." São Lucas, II, 35 . . desvios para Natália
esperança e fé são palavras rarefeitas pra mim são como nuvem, vapor, poeira e pó quase irrespiráveis como a poluição dessa cidade grande como a imposição dessa cidade grande e das gentes que desanimam mas tem um outro lado que dizem esperança bem no fundo esperança se ajuda eu não sei mas é necessária .
. "Quero lhe implorar Para que seja paciente Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar. As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira. Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora. Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante." Rainer Maria Rilke .
. O cheiro de todas as criaturas
Eu nunca sei quando as histórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término. Por isso prefiro nem acabar os anos. No ano passado esperei muito. Obtive um nada e um outro modo de viver que não era nem de perto o eu esperava. Esperava dias melhores e só tive desvios. Agora espero portas e almas entreabertas. Olho pelo buraco da fechadura com medo. E vivo a vida com algemas leves. Muitas vezes tenho vontade de me livrar delas. Talvez tudo aconteça assim por eu ser mais espectador ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida. Tenho essa enfermidade de não dar conta de quando alguma coisa acaba. A noite chega, as pessoas se aproximam, tomam seus banhos e eu continuo lá: com a vida na cabeça. Tudo muito pensando aguardando alguma deixa. A deixa que nunca vem. Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé muito grande. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia, onde anoto, escrevo; edito; e finalizo meus textos solitariamente. Escrevo só para mim uma tragicomédia poética. A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo da vida, muitas vezes, a sussurrar poesia a mim mesmo. Às vezes não ouço. Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula… Quem lê não entende, e logo, não responde. Eu, furioso, me escondo de todos: do leitor; dos conhecidos; dos estranhos… Expulso todo mundo e ateio fogo a tudo. Eu sempre adorei o fogo como resposta. E ali dentro fico eu, junto aos pensamentos, remoendo tudo incendiado. Incandescente por dentro: queimando, queimando, queimando…
Livre adaptação de “O fim da estória” de Alejandro da Costa Carriles .
. "quero uma porta entreaberta, mas só o necessário. quero ver sem ser visto, entrever as coisas, saber cada vez menos. quero cada vez mais portas entreabertas. não por proteção, mas por delicadeza." Julio Carvalho .
. poema com todos os vícios
viciado em muito viciado em sorte viciado em jogo viciado em corpo viciado em homem viciado em mulher viciado em esporte viciado em telefone viciado em internet viciado em chiclete viciado em cocaína viciado em esquina viciado em heroína viciado em codeína viciado em morfina viciado em tráfico viciado em droga viciado em estricnina viciado em carne viciado em arte viciado em livro viciado em capítulo viciado em papiro viciado em tiro viciado em arma viciado em moda viciado em foda viciado em música viciado em vídeo viciado em virgem viciado em peixes viciado em aquário viciado em tempo viciado em horário viciado em viagem viciado em coragem viciado em corte viciado em morte viciado em pó . viciado é pouco .
. "O fim está no próximo." Julio Carvalho . . por um fim reedit
o fim está próspero com o esquecimento global por isso eu prefiro um virus de grife que mata todo mundo bem vestido e coloca num caixão chanel com botão de cinema bunuel e caixa de presente em tom pastel a torre de babel fica no seu pé e qualquer língua já vale o que é algum problema aqui na renderização e não tem quem aguente mais poluição cd dvd pirata em promoção mais um problema de comunicação não transparelho o que pareço e não tenho preço no varejo eu vejo um outro dia assim atrás de mim não tem mais jeito não o mundo vai acabar e eu pagando o mesmo preço feito um cão
. “Ninguém pode pois escrever sem tomar apaixonadamente partido (qualquer que seja o distanciamento aparente de sua mensagem) sobre tudo o que vai bem ou vai mal no mundo.” Roland Barthes .
. videovisãoavisoávido
estranhamentos no que se vê estranhamentos no que se ouve estranhamentos no que se sente estranhamentos na ansiedade estranhamentos da sociedade estranhamentos na saciedade estranhamentos tais que causam estrangulamentos em pescoços remotos e os terremotos internos encontram-se em cada vez mais infernos a mais .
. "Cada qual tem um gosto que o arrasta." Virgílio . . o gosto o gosto do outro o gosto do outro que se discute que se anima quando se gosta que se precisa quando se falta do cheiro do outro que resiste na boca na língua na hora deixa o gosto da coisa toda
mas o mal é o líquido e certo pouco que todo mundo toca e nunca tem .
. "Existem barreiras tanto fisicamente quando afetivamente entre nós e as pessoas que nos cercam e me fez pensar em como construímos mundos particulares, inacessíveis muitas vezes, cujo acesso só pode ser descoberto por um momento de decisão... Por um salto no desconhecido." inAmor Wabi Sabi .
. as coincidências precisam ter um fim*
Falo como qualquer um... A coisa precisa ficar séria. Estive muito sozinho, mas nunca vivi sozinho. Teóricamente. Quando eu estava com alguém, me sentia feliz... Mas, ao mesmo tempo, tudo parecia coincidência. Aquelas pessoas eram meus pais, mas poderiam ter sido outras. Por que esse rapaz de olhos castanhos é meu irmão E não aquele de olhos verdes, do outro lado da rua? O filho do balconista era meu amigo Mas eu poderia igualmente ter colocado o braço Em torno do pescoço de um cavalo. Estive apaixonado por várias vezes. Eu poderia igualmente ter abandonado qualquer paixão E partido com qualquer pessoa que passou por mim na rua.
Olhe para mim ou não. Me dê a sua mão ou não. Não, não me dê sua mão, desvie o olhar. Hoje é noite de lua nova Noite muito tranquila Sem derramamento de sangue pela cidade. Raridade Nunca brinquei com ninguém Apesar disso, nunca abri os olhos e disse: “Agora é sério”. “Finalmente é sério” Assim, fiquei mais velho. Era eu o único que não era sério? O tempo não tem nada de sério? Nunca fui solitário, nem quando estive sozinho nem acompanhado. Mas eu teria gostado de ser solitário. Solidão significa o seguinte: finalmente estou inteiro. Agora posso afirmar isso, pois hoje me sinto solitário. As coincidências precisam ter um fim. Lua nova das decisões. Não sei se existe destino, mas existe decisão! Decida! Nós agora somos o tempo. Não apenas a cidade, mas o mundo todo Tem parte na nossa decisão. Agora nós dois somos mais do que dois. Encarnamos algo. Encamamos algo. Eu estava no meio da praça E a praça esta cheia de gente que deseja o mesmo que eu. Estamos decidindo o jogo de todos. Estou pronto. Agora é a sua vez. O jogo esta em suas mãos. Agora ou nunca. Você precisa de mim. Você vai precisar de mim. Não existe história maior que a nossa A história de duas pessoas juntas. Será uma historia de gigantes. Invisível, contagiosa Uma historia de novos ancestrais Veja os meus olhos Eles são o retrato da necessidade Do futuro de todos que estão na praça.
Ontem a noite, sonhei com alguém Com alguém que eu amaria Apenas com esse alguém eu poderia ser solitário Me abrir totalmente. Receberia esse alguém como como um ser inteiro. Envolveria num labirinto de felicidade partilhada. Eu só não sei quem é.
Esse alguém diria que Algo aconteceu. Ainda está acontecendo. Me prende. Foi verdade à noite e é verdade agora, neste momento. Quem foi quem? Estive dentro de algo em volta de mim. Quem nesse mundo pode dizer que já esteve unido a outro ser? Eu estou unido. Nenhuma criança mortal foi concebida Mas sim um quadro imortal compartilhado. Aprendi sobre estupefação esta noite. Alguém que me levou para casa, e encontrei o meu lar. Aconteceu uma vez. Aconteceu uma vez, portanto vai acontecer. A imagem que criamos me acompanhará quando eu morrer. Terei vivido em seu interior. Existe somente a estupefação entre nós dois. A estupefação entre duas pessoas me tornou humano. Eu agora sei O que nenhum anjo sabe.