sexta-feira, 4 de novembro de 2016

dos contextos...

.
"o amor
o arquipélago
e o arco de suas espumas
e as gaivotas de seus sonhos
no mastro mais alto o marinheiro acena
uma canção
o amor
sua canção
e os horizontes de sua viagem
e o eco de nostalgia
em sua mais úmida rocha a espera prometida
um barco
o amor
seu barco
e o desprezo por seus mistrais
e o braço de sua esperança
em seu mais rápido ondear uma ilha embala
a chegada"
Odysséas Elýtes - Do Egeu
Todos os direitos reservados da tradução 
diretamente do grego pertencem ao poeta Adriano Nunes
.






















entrada franca
"a melhor forma de se encontrar
é quando tudo está perdido"
Carlos Heitor Cony
como seria adentrar um vasto labirinto
e saber que dentro dele estaremos sempre perdidos?
que outro?
que não existirão deduções ou sinais
apenas dúvidas e o avançar receoso
por um caminho que não conhecemos
até que a saída se apresente como que por acaso
-
eu humano
resta apenas jogar com as dualidades
com o intuito de que
de alguma forma
consiga alcançar a saída
vida
amamos e odiamos
vergonha e orgulho
fome e satisfação
e tudo o que neste momento nos atrai
trai
em um outro momento
nos despertará asco
amigos se tornarão inimigos
e a paz será
a qualquer momento guerra
dualidades infinitas
e ficamos com a pergunta:
como sair do labirinto?
-
o que acontece quando nos perdemos?
falamos com estranhos
perguntamos
prestamos atenção aos sinais
ficamos preocupados
buscamos referências
lugares famosos
lugares familiares
nos interessamos pelas coisas
nos estressamos
e num momento derradeiro
olhamos para algo acima de nós
algo que esteja imune aos percalços
e dualidades que nos mantém perdidos
ou ligamos o Google Maps
-
depois de me perder muito
cheguei a uma ciência da perdição
algo me ensinou que
quando perdidos
devemos parar um pouco e deixar o fluxo correr
percebendo como as coisas voltam a acontecer
quando nos lançamos no mundo procurando saídas
não conseguimos notar as repetições
aquela coisa de andar em círculos
o fio de Ariadne é tipo
uma palavra que esquecemos
algo que sempre esteve lá
mas que não conseguimos pegar
vamos lembrando de várias outras
palavras
próximas
umas se colocam sempre
e parecem tentar nos impedir de lembrá-la
isso me deixa espantado
porque eu não consigo lembrar de algo
mas sei perfeitamente
que todas aquelas outras palavras
não são a tal palavra
quando mudamos de assunto e relaxamos
permitimos que aquela palavra fugidia retorne
e pouse em nossas mãos
-
apenas no momento em que baixamos a guarda
e nos abrimos para a estranheza do mundo
é que podemos perceber o estranho que nos habita
-
teriam as outras pessoas paciência
para adentrar o labirinto uma das outras?
estariam elas inquietas
se pudessem perceber seus próprios labirintos
se pudessem dizer:
venham todos
adentrem o meu labirinto
e se percam um pouco
por favor
.................................................................

um exercício do tamanho do olhar
com
impressão
e
pele
.................................................................

choose life
choose facebook
choose instagram
choose twitter
choose someone
somewhere


.................................................................

"— Vô, para onde vão os vaga-lumes?
— Boa pergunta, hein?
— Então responde, vô: eles ficam aí piscando quando anoitece, depois desaparecem.
Vão pra onde?
— E como é que eu vou saber? Se eles falassem, eu pegava um e perguntava, mas...
— É que você sabe tanta coisa, né, vô...
Pensei que soubesse pra onde vão os vaga-lumes e porque bem-te-vi canta triste.
— Bem-te-vi canta triste, você acha? Se é verdade, também não sei por quê.
— Então você também não deve saber minhoca não tem cabelo, né?
— Isso dá pra presumir, né: como vive, debaixo da terra cabelo pra quê? 
Cabeio é pra proteger do Sol.
— Então você tá bem desprotegido, né? Por falar nisso vô, 
porque mulher não fica careca?
— Pela mesma razão que por que homem não tem seios. Satisfeito?
— Mais ou menos... Mas acho que, se você não sabe pra onde vão os pirilampos, pelo menos deve saber por que cai estrela cadente. É por cansaço?
— Mas que deu em você pra fazer tanta pergunta assim?!
— É que a mãe falou que você é uma fonte de sabedoria, vô, e que tudo que eu quiser saber é pra perguntar pra você...
— Ela falou isso? Sua mãe às vezes me surpreende...
— Então por que cai estrela cadente? E por que falam que o Sol sai quando amanhece? Onde é que ele entrou pra sair?
— Peraí, calma! Uma de cada vez! Primeiro, estrela cadente cai porque perdeu a órbita, sabe o que é órbita? É viver rodando em volta, que nem você vive em volta de mim. A Terra vive rodando em volta do Sol, então não sai nem entra, está sempre onde está, a Terra é que gira e eitão...
— Isso já aprendi na escola, vô. O que eu quero mesmo perguntar é: qual seria a hora da chuva cair, quando dizem que caiu fora de hora?
— Espertinho. hein? Pois a chuva cai fora de hora pra uns, pra outros não, de modo é que ela cai quando quer e pronto. Próxima pergunta. Pode vir quente que eu tô fervendo.
— A mãe diz que vive com fome porque tá fazendo regime. E a tevê todo dia faia que tem muito país passando fome... País que tá passando fome também tá fazendo regime? E aí vai emagrecer no mapa?
— Muito engraçado. Pergunta boba não respondo.
— Quando você fica chateado você suspira, vô, sai um ventinho do nariz. O vento é o suspiro do mundo?
— Exatamente. O vento é o suspiro do mundo.
— E o luar é luz de outro mundo, não é?
— Perfeitamente. O luar é... Quem te falou isso?
— Eu pensei, vô. Também pensei que enchente é choro do céu, não é? O céu cansa de ver tanta coisa triste na Terra, aí chora bastante e...
— Claro! E desse jeito, logo você não vai precisar perguntar mais nada, está vendo tudo direitinho.
— Pois é, vô, eu vejo por exemplo que todo mundo que chamam de louco, na verdade vive muito feliz. Não é melhor então ser louco?
— Preciso pensar. Já não chega de pergunta por hoje?
— Só mais uma, vô. Dizem que Deus vê tudo e que Deus fez tudo, Deus pode tudo. E tem tanta forme, tanta desgraça, tanta miséria, não é mesmo? Então: se Deus vê tudo e pode tudo, por que não faz nada?
— Ah, é porque. Veja bem... Deus...
— Não enrola, vô!
— E eu tenho de sabei tudo?! Não sou Deus! Vai brincar, vai!
— Eu tô brincando, vô, com você..."
Para onde vão os vaga-lumes
Domingos Pellegrini

.................................................................

Isabel Allende





















.................................................................

osseum
museum
quantum
continuum

.................................................................

os dispostos me atraem

.................................................................

"todo corpo é orgânico mecânico
todo corpo é uma cidade esférica e esburacada
todo corpo é a lua de uma estrela
que de buraco em buraco se constrói
que de porta em porta fica sem saída
.................................................................
o homem todo funciona corpo
o corpo funciona todo homem
todo corpo homem funciona
homem funciona o corpo todo
todo corpo funciona, homem"
João Pedro Maciel Schlaepfer

.................................................................

auto amor
amai ao próximo como a mim mesmo
amai ao próximo como assim mesmo
amai ao próximo como ali mesmo
amai ao próprio como a ti mesmo

.................................................................

do contexto poético
de cada situação
ou de cada uma das pessoas
que conheço
obtenho um elemento
precioso para a poesia
e vou acrescentando
linhas e geometrias
modificando a cara do poema
baseado nestes dados
preciso de muita gente
e de situações cheias de
intensidade
para completar um poema
tenho muita imaginação
minha fantasia é maluca
mas sempre corro ao dia-a-dia
e ao incomum estado emocional
das coisas
um estado que me complementa
me supre
.................................................................

réplica
transcorridos os anos
em que o passado
demanda para escorar
um poema
escoar um poema
ecoar
um
poema
.................................................................

"a melhor religião 
é toda religião 
que te melhora"
Dalai Lama

.................................................................


.................................................................

Nenhum comentário: