à heresia
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coisas bem fáceis
olhar nos olhos
até se perder
de vista
tirei os sapatos
para desandar
poema é coisa que se arruma
dentro da desarrumada vida
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meu desejo não consegue
se alimentar de sobras
nem de
sombras
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dali do canto do olho
saiu
de repente dele
uma lágrima
poética
onde se consumou
a palavra
que iniciou
esse poema
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estou com dor nas pernas
se eu fosse um pássaro
seriam dores
nas penas
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até minha língua
tem origem
poética
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todo desejo
é uma forma de oração
se não acontece
é sepultado
viajo na velocidade
dos meus desejos
e visito minhas sombras
entendendo
os desejos
como mantras
calo um a um
desejos calados
imunes
às paixões
mas a carne é franca
desaperta e solta
o desejo-fênix
que não se queima
e dos séculos
renasce
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o rosto
é um lugar
onde os sentidos
mostram o significado
da carne
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odeio gente gentil
gentileza não é coisa natural
é sem princípios
gentileza é invenção de vendedor
valorizo gente verdadeira
e a atenção e o cuidado
que se enraízam em sentimentos
deixam de ser gentileza
são
atenção e cuidado
verdade
da verdade eu gosto
ao menos da minha verdade
a verdade é quando reconheço
os olhos
os olhos sempre ficam
testemunhas
o rosto muda em volta
transforma-se
abre poros novos para respirar
a boca também muda
esquece palavras
troca sílabas
fabrica vincos ao redor
para não sorrir
mas os olhos
se mantém
intactos
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testemunha
do corpo de delito
ao corpo de luto
ao corpo de luto
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paradoxal
além de calar
é possivel mentir
sair impune
mesmo sob juramento
não sei
não vi
não fui eu
além de calar
é possivel mentir
sair impune
mesmo sob juramento
não sei
não vi
não fui eu
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amores secos
securas sem amor
mesmo que tivesse riso
muito
nenhuma
assim de alma em branco
mais para ser bravo
mesmo num canto
e tanta secura assim
é que nem chão de rio
abre umas rachaduras
a terra escancara as carnes
sem sangrar
separa as coisas
tudo escorre para longe
até perder de vista
uma margem sem ver o outro lado
pedaço de terra que desgarra
vaga para mais longe ainda
umas ilhas boiando no mar
pedaços sem serem um do outro
aí vem a busca
em outro lugar
outro território
aprender outra língua
desaprender a antiga
economizar encrenca
recuperar até achar o lado
de lá
seu próprio lado
inesperado
ali solto
sem algemas
securas sem amor
mesmo que tivesse riso
muito
nenhuma
assim de alma em branco
mais para ser bravo
mesmo num canto
e tanta secura assim
é que nem chão de rio
abre umas rachaduras
a terra escancara as carnes
sem sangrar
separa as coisas
tudo escorre para longe
até perder de vista
uma margem sem ver o outro lado
pedaço de terra que desgarra
vaga para mais longe ainda
umas ilhas boiando no mar
pedaços sem serem um do outro
aí vem a busca
em outro lugar
outro território
aprender outra língua
desaprender a antiga
economizar encrenca
recuperar até achar o lado
de lá
seu próprio lado
inesperado
ali solto
sem algemas
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con
senso
humano
eu bem digo
essa coisa não
con
tenho
nunca
mais
denso
#tenso
senso
humano
eu bem digo
essa coisa não
con
tenho
nunca
mais
denso
#tenso
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no princípio
era o verbo
sim
com o tempo
o não
interveio
sem desculpas
sumiu
no meio
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no princípio
era o verbo
sim
com o tempo
o não
interveio
sem desculpas
sumiu
no meio
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