segunda-feira, 30 de junho de 2014

dos prejuízos...

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"como somos finitos
muito permanece."
Bertold Brecht
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prejuízo

(mal me vejo
mas tanta poesia
de mim ainda
deságua!)

convém cobrir os espelhos
que meus olhos não atravessam
para que não desviem o curso do poema
do poema que nenhum rio
mar ou curso d'água o façam
só os poetas
à margem das letras
na maré vazante da linguagem
onde as palavras são atrevidas
palavras são abusadas
palavras todas retirem-se
palavras engulam palavras
palavras digerem palavras
palavras coaguladas
em cada mar 
cada rio 
cada nascente
fio de água-palavra corrente
nos espelhos d'água cobertos
sustentados por poemas-âncora
entre
as margens
silenciosas
daqueles que estão em mim
então melhor me recolher
para dentro do espelho
desse poema líquido
daqui de onde vejo melhor
o que me empresta
ou resta:
um monólogo
do olhar

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