quinta-feira, 12 de junho de 2014

das meias vistas...

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"Se você vive poeticamente, encontra momentos de felicidade, momentos de êxtase, momentos de alegria. A questão da poesia da vida é mais importante que a felicidade." 

Edgar Morin, filósofo, antropólogo e sociólogo francês, para o Fronteiras Do Pensamento.



































eu levei minha calma para passear e ela foi atropelada por um ônibus caminhão bicicleta falta de vontade coragem foda e fuga. voltei com a calma para casa em cacos de raiva e calado feito farol. mas isso não fica assim.a calma volta. mas vem mais fria. com a alma congelada para que essa calma dure mais. um dia aprendo a evitar os atropelos. e assim  descongelar a alma.
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eu sou assim
assim
assim
você assim
assim
assim
e só eu a fim
afim os dois
enfim
só sobrou um ponto dos restos de nós dois
no fim
dessa interrogação
não sei por onde foi
por onde vim
onde vim
onde virei capim
e você me comeu 
comeu
comeu
de todo corpo
de rabo de cobra a um trago de vodka
no final daquela poça
ainda rola algum algo
de nós
algum laço apertado na voz
e se o álcool nos culpa
desculpa
por te fazer
tão feliz
desculpa se não entendeu
até onde minha poesia
quis
ao menos nenhum mal
eu poeta em minha delicadeza
não te fiz
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deixa o orvalho passar da folha pra sua boca
as duas coisas contem as manhãs
as duas coisas são florescentes
as duas coisas plantam e brotam palavra sua folha vem em coisa feita de página de abrigo
onde se escondem as ramas e tramas e folhagens. 
aqui fora do texto poesia que se olha de longe é miragem.
de sobra.
de luz
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sou humilde numa multidão de eu e você. 
hum mil de nós dois.
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acordei com uma dor no peito
sem jeito
sem sal
um mal amargo
um mar amargo
precisando de voz
talvez o silêncio
o dizer nada me acalme
mas uma outra voz
que eu ouça
transforme
angústia
em folia
maré em maresia
uma letra ainda nem feita
mas perfeita
uma voz que me anima
nessa manhã estancada
me faça poeta
quase eterno
nessa voz
encantada
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a escolha poética é ato de liberdade
você pode escolher fazer um poema numa língua paleolítica ou numa que ainda nem existe
só não se queixe da incompreensão dos seus leitores. 
a poesia se explica em grãos
a palavra quimera 
o poema quintal. o resto é a ave. o voo. o bico. 
o círculo poético 
o ovo
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meu estado de saúde
é a cegueira que outros
me impuseram
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porque minha alma retirou os meus olhos?
porque minha alma limitou meu olhar?
minha alma me deixou feito um quadro
um quadrado de vida
um poema encerrado
entre os quatro cantos
do olhar
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a escrita em branco
é aquela que não é vista de perto
é a que se vê pelos cantos
pelos lados 
pelas periferias
como essas  dores que escapam da  gente quando a gente vê as dores dos outros de longe
a escrita em branco não fica em nenhuma página
ela não é vista de um jeito comum qualquer
é em volta das coisas
das crises
das prisões e das dores que ninguém nem chega a saber que existem
a escrita em branco
são os poemas das dores distantes
e das dores que só sente quem consegue
despertar
desse torpor
e fazer parar
qualquer uma
dor
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a poesia quase ficou cega
mas Ainda Vive Claramente
mesmo que a mente 
insista em
não
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a vida é uma vitrola
tudo depende da agulha que toca
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