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"Não queremos
poesia,
Queremos mágicas, artifícios,
Procuramos tapar na existência
fatais vazios
E apesar de imenso esforço, uma
atrofia."
Wilhelm Klemm
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selo um
o tempo todo
em todos os lugares
os corações batem e bombeiam
e conversam de várias formas distintas
na maioria das vezes provavelmente dizem
“estou com fome
quero ir ao banheiro
estou com sono”
mas às vezes conversam em códigos
difíceis de entender
tenho um coração
com fala diferente
e que não acha uma resposta mínima decente
ou tradução
então das coisas todas isolo
por pura falta de entendimento
é muito pouco o que andam dizendo
os batimentos são fracos e frágeis
estão desaparecendo
- receio é desaparecer junto
nessa desesperança
selo dois
faz
um tempo
que estou sem poema algum
provavelmente
porque estou com ausências de rimas
e com silêncios de entrelinhas
- alguma amargura
que desligou a poesia
selo três
e
eu: lendo seu livro,
escrevendo, teclando no notebook
e teclando com um amigo no celular
tudoaomesmotempo
para fugir um pouco dos vazios do meu
aquietamento
selo quatro
eu
tive fogo
só tenho cinzas
quem disse que amadurecer
é bom
esqueceu do calor das chamas
ficou com a fumaça
dos dias
contados a partir de um sempre
lugar nenhum
selo cinco
aquela
frase foi crescendo
crescendo
crescendo
até brotarem dois pontos
no final
selo seis
de que adianta minha melancolia
se ela não me serve de nada?
há um desajuste de coisas
internas e não há meios ou açoites que entendam tanta desolação.
é um campo aparado e sem nada de vida que a chuva nunca
consegue enxergar.
um seco. é o que fica.
um seco sem nenhuma
explicação.
selo
sete
"o domingo é um cachorro escondido debaixo da cama.
o domingo é essa eterna chuva de dentro que não passa."
Mário Quintana & Julio
Carvalho.
selo
oito
o
choro restava ali
engasgado
quase saindo
e não foi
último sê-lo
“não
é o que o poeta nomeia,
é o que a poesia incendeia.”
Adaptado de Affonso Romano de Sant’Anna
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