sábado, 25 de abril de 2009

das noitadas...

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ligths


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quarenta
e quatro anos:
Deus
fez o mundo em sete dias
o meu
é refeito
a cada vinte e quatro horas

Julio Carvalho
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DESNOITADAS NA CARA

tudo quando é noite
escuro se constrói
ver melhor com luz
apagada as coisas são
calmo estático vazio
muito inundo tudo nu
e nem pensa nas vidas que têm
nas gentes que é
não é capaz
ser respostas

ficar
solitariamente
entre objetos
- horizonte papel pedra carro e néon -
esperando sossego
apesar da paixão

lançado
maltratado
mal usado
pelo acaso
caso só com os desmanches dos outros
e os seus animais
e seus cães de caça
e de todos os cães
e dos que fui
e sobrou só instinto
e os ossos roídos
e roupa rasgada
e saliva
e raiva

e algumas vezes
no meio o freio:
o feio desvio da chuva

nessas medonhas
escuriosidades
mais acesas estão as
loucuras que se movimentam contra tudo
contração do pulso
nos mínimos detalhes
das coisas entranhas
das animalidades
das esquinas

nessas noites
sem óculos
sem ócio
entrevendo
entrando muita coisa pelo silêncio
tudo é um míope
embaçado
a essa altura hora noite noites

nessas coisas
empoçadas nos pés dos postes
sacos de lixo
– troféus de bares e becos de luxo
esganam dele fígado
estômago
rim
rindo do enjôo
do pensamento:
o dia seguinte

nessas horas
uma liberdade
louca vagabunda
fêmea filhadaputa
toma o controle
uma vontade de brutalidade
de botar
um fim

...do outro lado um sol na ponta do lápis acaba de escrever o dia.
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2 comentários:

Léo disse...

Julio, gostei muito da adaptação. Na verdade acredito ter sido muito mais a criação de um ritmo poético, pausado e louco - como tudo que eu gosto é - e cheio de vicissitudes indizíveis. Obrigado pela honra!

Laura Fuentes disse...

Quem, poeta da sua qualidade, espera sossego apesar da paixão, tem sempre um sol na ponta do lápis... e da alma.
Saudade, amigo...