segunda-feira, 1 de maio de 2017

dos trabalhos...

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"Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma tranquilidade lúcida
Do entendimento retrospectivo...

E a luxúria única de não ter já esperanças?

Sou inteligente; eis tudo.

Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, 
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa."

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- Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 24.6.1935), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
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o amor é cego
a justiça é cega
talvez por isso
o amor seja
tão mal distribuído
e mal retribuído

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#greve

inter
ditada
a Poesia
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reescrever
todo amor
que não deu
certo
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o celular me dá medo
porque tem um google
dentro


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um poema
conforme
a noite passa
um poema
conforme
o dia
nasce

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um poeta é só ferramentas
de corte e palavras
de coisas que retornam pela mesma estrada
na contramão
uma hora se conserta
no escuro
outra hora se consome
em semanas
de horas e de luz
enquanto o resto dos homens
semeiam
destinos
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jardim ordinário:

uma tradição que persiste
após tanto tempo
até mesmo quando os relacionamentos estão sendo devastados pelas urgências da pós-modernidade e sofrendo aqui e ali ajustes incontáveis: alguém ainda  se importa em comprar flores

me parecem honras aqueles atos que se dedicam a demonstrar as verdades

do Amor Absoluto

cada pétala é uma metáfora de uma realidade que há muito não se modifica e que se esconde entreatos

há quem diga que presentear com flores caiu em desuso antes mesmo da decadência do Amor

qual utilidade teria?

damas emotivas e românticas que me permitam meditar sobre!

se simbologia há

ainda

persiste a idéia de que são a representação de amores floreados

daqueles que têm pétalas frágeis e que caem num piscar de olhos

estas tais espécies de seres inanimados feitos para serem postos em cerimônias fúnebres e cuja beleza é o último suspiro de uma pretensa dignidade do defunto

parece ser

nada mais

cafona

ordinário 

e decadente...

lembrei de um samba
em que o compositor pede
para receber flores em vida

breve -

recomendo e nego:

deixem a vida nas flores
ponham vida nos propósitos

- muito mais o ato entre as flores

em pensamento repudiei aquele rapaz inocente
que carregava um buquê de rosas no ônibus e me senti mal amada
então me desculpei em silêncio
deitei oniricamente naquelas flores
que me fizeram carícias de querer ganhá-las

(o Amor quando florido

causa inveja e espanto

porque é raro)

Ah o Amor! Quando é  belo, tem seus artifícios tão sedutores!

sigo viagem
(os pontos são pétalas)


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se asas
do alto
é seu melhor lugar
/
o chão
não
importa

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greve
ou
grave?

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barbearia fechada
na madrugada
/
noite
sem
cortes

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agora que tudo passou
ou está  quase passando
posso dizer
pelas memórias
fundidas e confusas
das duas cidades remotas
aquelas montanhas agudas
minérios
acordes sedentos
me seguindo
no inverso intenso dos trilhos
e árvores
em malhas de ferro
ímãs da vontade
surgindo de dentro das coisas
misturadas quase cedem
ao
apelo
ao estranho intenso
à presença  da água
que se firma nos caminhos entre as montanhas
e os sentidos cada vez mais confusos
ainda que pareça um sonho
ainda que ferimentos ausentes
voltem às lanças de peças e ruas
e tramoias do tempo
ainda que as horas poucas me assustem
sem rumo
no meu próprio escuro
sem um lugar para pisar ao certo
(o passado é sempre um lugar
para não se pisar ao certo)
ou não se pisar
e desenterrar os mistérios
das montanhas
das trilhas
dos corações
de ferro
a céu
aberto
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não tenho dados concretos
porque concretos
são pesados
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"a pele
é uma roupa
sem saída
para o esqueleto"

Liria Porto

(maricotinha
- 8 anos incompletos)
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cognitivo:
boas notícias
de dentro
da minha
cabeça

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eu tenho
olhos
difusos
horários

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ter
e
respirar
no seu
lugar
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via Mariano Raffaelli ♡

"Si todos los que me pidieron ayuda
en este mundo,
todos los santos inocentes,
las esposas destruidas, los lisiados,
los que están presos, los suicidas-
si me hubieran mandado un kopek
me hubiera vuelto “más rica
que todo Egipto”…
Pero no me mandaron kopeks.
En vez de eso, compartieron conmigo
su fuerza, y así nada en el mundo
es más fuerte que yo
y puedo soportar cualquier cosa, incluso esto." 


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lamento:
quanto menos se entende
mais se sente

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/a palavra/

preciso beber
para relaxar
preciso entorpecer
para encaixar
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não falo mais nada e chega
o toque torpe da certeza
de que a
saudade é
o que está escondido
no início
/
é o antigo
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tecido/brando

abra bem os olhos
para reconstruir uma imagem
aos poucos
inteira
possível a partir de outro olhar
que nos olha
se tudo lhe parecer estranhamente
familiar
desconfie
se a delicadeza
o singelo e os jogos de palavras
esconderem alguma verdade
questione
procure o que está por dentro
embutido
as linhas da mão
quase um não
estendido
em linhas costuradas
espalmadas
nas almas como
um diário íntimo
a pele é o suporte da alma
e quem não a entende
não se salva





















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estamos todos
o tempo todo
tentando nos sentir
em casa
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partes
princípios
inícios
começos
ao meio
dos
fins
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sobreamei
sobre o mar
sobre a água
salgada
do outro
sobre amar
beijei
sobrei
do
ex
vaziei
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"moço: toda saudade é uma espécie de velhice." 

ROSA, Guimarães. Grande Sertão Veredas. p. 56.
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/#19
não sou bom
em agradecimentos
aconteço em poemas
depois de tanto tempo
só me resta dizer
abraços

/#52
obrigado a todos
pelos cumprimentos
que tornaram possível
a minha chegada até aqui
em corpo
poesia
e
alma
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NOVE MENTIRAS E UMA VERDADE

1 - faço 44 anos hoje
2 - faço 45 anos hoje
3 - faço 46 anos hoje
4 - faço 47 anos hoje
5 - faço 48 anos hoje
6 - faço 49 anos hoje
7 - faço 50 anos hoje
8 - faço 51 anos hoje
9 - faço 52 anos hoje

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"eu acreditaria somente num Deus que soubesse dançar "
( Friedrich Nietzsche )

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quanto mais difícil a emoção
mais fácil a poesia
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meus olhos
novos
descobrindo
memórias
antigas

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estante

do passado
retiro o que eu disse
do passado
amorfo
eu trago
o que fosse
do futuro
eu busco
estar
instante 
infinito
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o tempo
é um espaço
entre ponteiros
entre anos
entre momentos
o tempo dilata espalha memórias
o tempo não tem escolhas
em um espaço de tempo
a gente vive
espera
e
mora

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a terra
é água
ardente

da terra
a água
ardente

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a vida cabe numa estante
a vida cabe num instante
a vida cabe no que se descobre
a vida se cobre
com ou sem
vergonha?
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quem você coloca do lado de fora?
onde é fora?
onde é quem?
quem é coloca
dentro de fora
quem é você
dentro?
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"vi deus pendurado nos ganchos de uma palavra
eu não distingui a palavra em que vi deus pendurado
eu não suspeitei que a palavra fosse uma espécie de deus
prestes a cair, como se fosse
deus.
eu não fiquei cego ao perfurarem-me o olho
eu não percebi o meu olho ao tateá-lo com o outro
eu não suspeitei que esse olho fosse uma espécie de deus
prestes a me pendurar, como se fosse
deus."

ganchos
Vinícius Mahier
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hoje a boca amanheceu
cheia de palavras
cada qual com um pedaço
de letra por sobre
a língua
levavam toda voz
no céu da boca
garganta adentro

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deus
e o diabo
farinhas
do mesmo lado
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palavra do dia:
invectivo


(in.vec.ti.vo)
a.
1. Que tem o caráter de invectiva; concernente a invectiva; INJURIOSO; INSULTUOSO
2. Que expressa, manifesta ou profere invectiva(s); INJURIOSO; INSULTUOSO: "Não seja brincalhão e invectivo, tampouco tristonho e melancólico - senão [simplesmente] alegre." (, Leis do Comportamento da Torá, Cap. 2,13))
3. Agressivo, hostil
[F.: Do lat. invectivusaum. Hom./Par.: invectivo (a.), invectivo (fl. de invectivar).]
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"Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos."
- João Cabral de Melo Neto, do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", 
Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.
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não me responsabilizo
por mim
a esmo
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eu abri os olhos e aquele membro soltava mais secreções do que o gargalo de uma garrafa de um bom champanhe recém aberto. olhei de lado e enfrentei com coragem. com a boca toda. aberta. fingindo tesão no lugar do nojo. ele disse sentir prazer.  eis minha vitória! saber fingir e provocar o delírio do outro. este é o papel de um bom amante...
sou puta. e putas são sujas. e criativas. quando querem.
ao mesmo tempo beiro ao requinte absoluto. capaz de encantar um príncipe. e de fazer um rei se sentir dono do mundo enquanto o engano dizendo que o amo.

#eroticourse


Crio armadilhas.  Porque em muitas já cedi. Aprendi que o amor é teatral. O palco se estende de coração a coração.  Os atores de encantam e se enganam. É permitido  o abuso.  O sentimento extremo. O amor é um teatro. Carnal ou não advém de espíritos que contemplam o mesmo ofício.  Um engano mútuo . Abrasador. Arrasador.

#eroticourse
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para você conseguir algo que você nunca teve, você tem que fazer algo que você nunca fez

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abril é a cor mais quente
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aos mortos
reencarnação
aos vivos
reencanação
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confesso sem falsa estima:
a acidez depura o verbo
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meu coração
acorda
no meio da noite
apertado
pela falta
de "não-sei-o-que"
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seis

6 tão tudo "falano"
de amor
seus "bando de carente"
é tanta gente "e talz"
6 tudo tão "precisano"
de hospital
carência multipla de tiro de letra
amor retiro da gaveta
que é pra não mofar mais
tenho espera tenho desespero
se acaba o amor
não se sabe onde ele foi


mais

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