segunda-feira, 8 de maio de 2017

dos investimentos...

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"o começo do homem é o fim do homem
o começo é o fim
o começo é o homem
o homem é o fim
meço o homem pelo fim
o fim é a medida a medida é o começo
a medida é o meio o meio é o medo
o medo é o muro o muro é o vulto
o vulto é o vento
o vento bate na bandeira
parece passo na pressa
o passo é a pressa
a pressa é o modo
o modo é o mito
o mito é a meta
o fim é o mito
o mito é o começo
o começo do homem é o fim do homem
o fim do homem é o começo do homem."
Teoria do Homem
Antônio Olinto








Acho que todos nascemos perdidos e no decorrer da vida 
vamos ficando, talvez, menos perdidos. 
A impressão que tenho é que nascemos 
no meio de um jogo em andamento e, 
pra piorar o quadro de cachorro que caiu da mudança, 
desconhecemos as regras e nosso papel. 
Vamos imitando aqueles que estão perto da gente 
e no final tudo parece caminhar, 
sendo que nunca chegamos a perder completamente 
aquela impressão de fundo que sussurra 
- mano, whatahell eu tô fazendo aqui!?




a linguagem aqui flutua
é o que tem que ser quer aqui
escrevível:
o conserto das palavras
não só um
resultado final do poema
mas o ruído discreto e breve
o rumor de respirar
a relojoaria
do dia e do sentido se fazendo
sem hora para acabar
interminável
imbatível
palavra engrenagem
perfeita
sem acalmar a mesa
sem o clic
final
onde se admite tudo
o eco
o efeito
a falha
o afeto
a pena
a palha
o leve
até para efeito de contraste
para fazer do peso - pesadelo
em paralelo
e em vez de pedra
quebra-dente
atiradeira
para manter a atenção de quem lê
como isca
como risco
a ameaça
do que está no ar
iminente



El amor y el amante
¿Eres amor? Pasa el fuego,
Cruza con alas el mar,
Despierta a la vida en el sueño,
Da hermosura a lo real.

¿Eres tan sólo la sombra?
Cubre con tu resplandor
Tu mentira. Haz que la sombra
Venza al fuerte, al puro amor.

CERNUDA, Luis. "El amor y el amante". In:_____. "La realidad y el deseo". In:_____. Poesía completa. Org. por Derek Harris e Luis Maristany. Madrid: Siruela,1993.

O amor e o amante
És mesmo amor? Passa o fogo
Cruza com asas o mar,
Desperta na vida o sonho,
Dá formosura ao real.
Ou és apenas a sombra?
Cobre com teu resplendor
Tua mentira: que a sombra
Vença o forte, o puro amor.
Tradução por Antonio Cicero


diálogo breve
algumas lágrimas depois
ambos envoltos em um robusto silêncio
ele se lembrou de algo engraçado 
e rimos
recebi aquela risada como permissão para voltar a ser feliz

com Michelle Della Torre

existe um perigo nos segredos
 assim como na pesquisa e no conhecimento 
/
algumas coisas não devem ser vistas


passei por cima da técnica para ser poeta

confundem-se pessoas sem noção 
com pessoas sem emoção


cactus

sinceramente
os imprestáveis
desaparecem
naturalmente
e me livro
da pastagem


há mais gavetas
que poemas no mundo

me preparei para a terapia
a tempo
mas não houve palavra
substituída
pela
conjuntivite
/
eis o olho
superior
à palavra
de
dentro

o chato é o amigo mais querido
o amor aceita
o chato
porque desconfia
de quem é muito
"bonzinho"

apenas digo nomes: tudo existe
muito senhor de si
tudo existe insolente
independente
de mim

"perto de dormir, cruzo as mãos sobre o peito.
colocarão minhas mãos assim.
parecerá que estou a voar para dentro de mim mesmo."
Bill Knott


eu vi
nem vi
tudo isso
o branco é imagem que pintam
todo o resto é incolor
não entendo
porque falar de preconceito
causa tanta dor
a sua dita
consciência
é o que te
provoca
é preciso ser gente
urgentemente

poeta b.
poeta bom
tem sempre um poema
aflito
e sofre da ansiedade da palavra crônica
poeta bom
tem T.O.C.
/
Transtorno na
Ordem
Crítica
poeta bom
cansa de tudo rápido
e muda a palavra entediada
poeta bom
é da pá
lavra
revirada

poeta bom cansa de tudo rápido 
e muda a palavra entediada



"as coisas importantes
vão
e
voltam"

se eu não represento
não me apresento

não tenho culpa 
se é parco 
o seu muito

espinhas são coisas portáteis
que o corpo carrega
cheias de pus
são lembranças
que ainda adolescemos
depois da meia idade
depois da meia vida
e sangram
e cicatrizam
e marcam a pele
mais velha
que agora
demora
para se lembrar
do antigo
que foi
um
dia

essa flor roxa
do meu perfil
não carrega nunca
/
ela significa
tudo o que não
floresceu
e que não deu
sinal
de
vida

geografia do sono
da topografia dos sonhos
a cordilheira é leve
e os rios mais calmos
a não ser os pesadelos
que são
terremotos
que lembram
a hora
de acordar

descasco-me desta pele
e fico só com os ossos
do
ofício
de 
poeta

eu estava dentro de você
e fui arrancado como um ritual
sangrento
naquele momento 
nem respirar eu pude
mas agora entendo
o fórceps da situação
sair de um lugar
às vezes
nos poupa de algum tormento

o anticristo
é antevisto
atropelado no meio da rua
ou atirado de algum prédio
em construção
esmagado por uma prensa
pede socorro
em
vão

na vida intensa
todos se desentendem
menos os poetas

cubro de infinito
o pensamento
e alinhavo essa tristeza
dos meus olhos que não me contam
mais de tanta certeza
mas eu tenho ainda a sorte
de não ter que ver um todo
e o pouco que avisto
é só mesmo
o que interessa


o amor é um ofício 
concluído
por peritos
desastrados

eu escrevo aos poucos
pedaços
que me atravessam
pela jugular
só não morro
de uma hemorragia
interna
porque as palavras intensas
são estanques
e curam
qualquer corte
profundo

negar a dor é perder a vida
o escondido aparece
intacto

só pertencemos ao espelho
enquanto
reflexos
permanecer
é estar quieto
entre aspas

a vida 
às vezes
se vê dobrada
origami
/
não se 
engane

ficaram insetos
para desenhar pássaros
nos bicos
no alto das pedras
e no alto dos cimos
voaram tão alto
que acabaram perdidos
depois dos ensinamentos das nuvens
até o fim do azul
um pouso do céu
foi necessário
e o chão sarcástico
no pouso livre
cedeu

eu te disse
antes de dormir
que o sonho
são as unhas do tempo
e existe o sonho que vai
e o sonho que volta
um é antes do sono
o outro é a realidade
que acorda

o céu impermeável
como seus desejos opacos
subvertem o dia

costura sol
dentro do peito
com camiseta
rasgada
do lado inverso
escreve chuva
e deságua

"sentir os calores do medo
tocar o medo com as pontas dos dedos
deixar o medo sem língua
arrancar os dentes do medo
e mastigar no café da manhã"
Déa Paulino

a raiva alinhavada
diz que é difícil
morrer

um encontro
é quando rachamos os espinhos
dentro da boca
e ficam difíceis
as palavras
é que o primeiro lapso
nos invade às pressas
nada que possuímos
sobrevive ao que falamos
e nesse diálogo
soldamos as carnes
mesmo quando sozinhos
guardamos segredos
com muitas mãos

te espero
depois
da última
cena
de
cinema

solar tatoo

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