quinta-feira, 13 de novembro de 2014

dos perpétuos...

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"a maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
nesse ponto
sou abastado.
palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
perdoai. mas eu
preciso ser Outros."
Manoel de Barros
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moto perpétuo

o amor ama o que é difícil
quando você se sentir vazio
abra seu coração 
e deixe que o tempo o complete
dentro
o amor aqui
é o fogo ardente
e o amor ardente é fogo
sempre
não se enterra o amor
enterram-se os corpos
mas nunca os seus desejos
nesse caminho do amor
cada um escolhe uma direção
diferente e regras diferentes 
para transgredir
aí então
com o tempo suspenso
não há princípio nem fim
apenas voos infinitos
e eis que com o tempo
toda a curiosidade
e todo desejo desaparecem
e uma corda é amarrada 
no pescoço de cada ser
apaixonado
e assim aprisionados
mesmo que enxerguem um
na verdade são muitos
os apanhados
cada ser que se apaixona
está preso em sua ilusão
e o coração pulsa
a dor constante
do grande espanto
aqui você não ousa olhar
não ousa respirar
espadas afiadas de amor
acontecem 
até onde o amor 
precisa ser fênix
renascer
voltar a voar
plantar folhas secas
em sua volta
abrir as asas para atiçar
uma nova fogueira
e das cinzas 
extrair a fumaça
do desejo
voar e voar
até o coração
ficar quieto e sereno
e voltar a guardar os seus
mistérios

baseado no livro 
A Conferência dos Pássaros - Peter Sís 
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reflexo

uma vida cheia de nada
pessoas como espectros
a única forma de sobreviver
voando com as asas cortadas
e olhos mal arranjados
lançar mão da loucura
porque o excesso de lucidez
é um algo que me mata
o que não vejo de longe
de perto é o que me basta
assim protegido de tudo
entendo o espelho poético
onde escondo meus olhos
dessa realidade patética
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começa
o amor
e suas
ociosidades
patéticas
incontroláveis
então vem o poeta
que depois regressa 
aos seus quatro cantos
com sua luz
e a dispersa
- enfim
acredita
nas coisas
findas- 
e que em quatro letras
bem cabe a vida


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pedro
pede
que a poesia
ande
poesia
não anda
nem a cavalo
nem sobre rodas
poesia pedro
vem de pássaro
e vai de flecha
direto
te acerta
derruba
e não
nos
separa

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