quinta-feira, 28 de junho de 2012

das inter-relações...



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“Em sua luta contra a língua falada,
as letras sorvem para si a vida da língua: letras são vampiros.  
As linhas, criadas com essas letras que ganharam vida, chamam-se textos. 
Etimologicamente, a palavra texto quer dizer tecido
e a palavra linha, um fio de um tecido de linho. 
Textos são, contudo, tecidos inacabados:
são feitos de linhas e não são unidos 
como tecidos acabados por fios verticais.
Textos não contém tramas. 
Portanto a literatura  é um produto semiacabado.
Ela necessita de acabamento. 
A literatura dirige-se a um receptor,
de quem é exigido que seja completada. 
Quem escreve tece fios que devem ser recolhidos pelo receptor para serem urdidos. 
Só assim o texto ganha significado.
O texto tem, pois, tantos significados
quanto o número de leitores.”
Vilém Flusser in A ESCRITA – Há um futuro para a escrita? 
(Adaptação livre do original traduzido por Murilo Jardelino da Costa)

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tempo
x2
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po(u)sologia
letras são séculos de coisas 
que algumas vezes arranjadas 
são incompreendidas

quero a venda da poesia
por alguns contos
por alguns cantos
de lados a lados
equiláteros
e sonoros
como voz de maquinaria

existe explícito
rastro de ruído poético
num excesso de polimento

em poesia polida
não se remete a língua
se mete ao modo
circular
de lamber suas
voltas
aos versos
aos berros
aos erros

sinestesia
os poetas são nossos órgãos dos sentidos
então
ler poesia é como pegar, cheirar, ver e ouvir as coisas 
em seu estado de maior permanência
de quase alma.

susto
não passei de
um  papel em branco
corado
de giz

creatio I
eu disse abandono?
abandono da cor e alma
do poema
não fiz

eu disse letras e não besteiras
eu não abortei
eu pari poesia

naquele momento
no rascunho do meu corpo
eu nasci

creatio II
poesia é a palavra alfabetizada do zero
é o beabá do poeta
poesia é a volta da infância da palavra
é a cria do poeta
poesia é a palavra filhote
é o leite do poeta
e quem lê
ordenha
o poema branco
recém nascido
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