no dia mundial da poesia
eu tinha um poema em circulação
que se desviou
entre a cabeça e o coração
.
enriqueço na solidão:
fico inteligente, bonito
e não este feio ressentido
que me olha do fundo do espelho
ouço duzentas e noventa e nove vezes a mesma música
lembro poesias
reviro gavetas
sonho
invento
abro todas as portas
e quando vejo
a alegria está instalada em mim
é um processo demorado e difícil
como o da pedra filosofal
é o ouro do silêncio que me resta
"Tudo, aliás, é a ponta de um mistério.
Inclusive, os fatos.
Ou a ausência deles.
Duvida?
Quando nada acontece,
há um milagre que não estamos vendo."
.
- João Guimarães Rosa, do conto "O espelho",
no livro 'Primeiras estórias'.
as melhores coisas
sempre acontecem
quando a gente não espera que elas aconteçam
então hoje vou ficar em casa
não esperando que aconteça
nada
"Pouco se vive, e muito se vê...
– Um outro pode ser a gente;
mas a gente não pode ser um outro,
nem convém..."
.
- João Guimarães Rosa,
em Grande Sertão: Veredas.
nem tudo o que se reduz
é louco
em mim só acontece
o que eu entendo
o que eu entendo
todo dia inacabado
como todos os homens
sou inacabado
e jamais termino de ser
perco o que ganho no sonho
e no desejo
quando a mim mesmo me acrescento
toda vez que me somo
subtraio-me
e sumo
uma porção levada pelo vento
incompleto no dia inacabado
livre de ser ainda
como e quando
cheio de porques
sigo a marcha
e a nódoa
das plantas e das estrelas
e o que me falta
e sobra
é o meu contentamento
ao que
este mundo é muito bagunçado
cheio de receios
porque
tudo o que muda a vida
vem quieto no escuro
sem preparos de avisar
as pessoas
tinham de rever o inteiro
o inacabado
do curso ordinário da vida
em todas as partes da figura
— do dobrado ao singelo
do errado ao sincero
enquanto isso
eu me significo
tentando contar
mas contar é muito
muito difícil
não pelos anos que se já passaram
mas pela astúcia que têm certas coisas passadas
de fazer confusão
de se remexerem dos lugares
o que eu falei foi exato?
inacabado?
foi?
mas teria sido?
agora acho que nem tanto que não
são tantas horas de pessoas
tantas coisas em tantos tempos
tudo junto e misturado
melhor mesmo é ouvir a voz e vez
das nascentes
porque só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todos os aprendizados
como todos os homens
sou inacabado
e jamais termino de ser
perco o que ganho no sonho
e no desejo
quando a mim mesmo me acrescento
toda vez que me somo
subtraio-me
e sumo
uma porção levada pelo vento
incompleto no dia inacabado
livre de ser ainda
como e quando
cheio de porques
sigo a marcha
e a nódoa
das plantas e das estrelas
e o que me falta
e sobra
é o meu contentamento
ao que
este mundo é muito bagunçado
cheio de receios
porque
tudo o que muda a vida
vem quieto no escuro
sem preparos de avisar
as pessoas
tinham de rever o inteiro
o inacabado
do curso ordinário da vida
em todas as partes da figura
— do dobrado ao singelo
do errado ao sincero
enquanto isso
eu me significo
tentando contar
mas contar é muito
muito difícil
não pelos anos que se já passaram
mas pela astúcia que têm certas coisas passadas
de fazer confusão
de se remexerem dos lugares
o que eu falei foi exato?
inacabado?
foi?
mas teria sido?
agora acho que nem tanto que não
são tantas horas de pessoas
tantas coisas em tantos tempos
tudo junto e misturado
melhor mesmo é ouvir a voz e vez
das nascentes
porque só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todos os aprendizados
Mc Linn da Quebrada, Lêdo Ivo, Guimarães Rosa e Julio Carvalho
❝ Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes.
.
- João Guimarães Rosa, no livro “Ave, palavra".
.
- João Guimarães Rosa, no livro “Ave, palavra".
"Contar é muito, muito dificultoso.
Não pelos anos que se já passaram.
Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas
– de fazer balancê, de se remexerem dos lugares.
O que eu falei foi exato?
Foi.
Mas teria sido?
Agora acho que nem não.
São tantas horas de pessoas,
tantas coisas em tantos tempos,
tudo miúdo recruzado."
.
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".
.
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".
"O dia inacabado
Como todos os homens, sou inacabado.
Jamais termino de ser.
Após a noite breve um longo amanhecer
me detém no umbral do dia.
Perco o que ganho no sonho e no desejo
quando a mim mesmo me acrescento.
Toda vez que me somo, subtraio-me,
uma porção levada pelo vento.
Incompleto no dia inacabado,
livre de ser ainda como e quando,
sigo a marcha das plantas e das estrelas.
E o que me falta e sobra é o meu contentamento."
.
- Lêdo Ivo (Vaso Roto, Barcelona), em "Calima", 2011.
Como todos os homens, sou inacabado.
Jamais termino de ser.
Após a noite breve um longo amanhecer
me detém no umbral do dia.
Perco o que ganho no sonho e no desejo
quando a mim mesmo me acrescento.
Toda vez que me somo, subtraio-me,
uma porção levada pelo vento.
Incompleto no dia inacabado,
livre de ser ainda como e quando,
sigo a marcha das plantas e das estrelas.
E o que me falta e sobra é o meu contentamento."
.
- Lêdo Ivo (Vaso Roto, Barcelona), em "Calima", 2011.
"A vida é ingrata no macio de si;
mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.
Ao que, este mundo é muito misturado..."
-João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas.
-João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas.
❝ Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar.
.
-João Guimarães Rosa, no livro “Noites do sertão”.
.
-João Guimarães Rosa, no livro “Noites do sertão”.
❝ Tinham de o rever inteiro, do curso ordinário da vida,
em todas as partes da figura
— do dobrado ao singelo.
.
-João Guimarães Rosa, no livro “Tutaméia: terceiras estórias”.
.
-João Guimarães Rosa, no livro “Tutaméia: terceiras estórias”.
“Temos medo dos que pensam diferente
e mais medo ainda daqueles que,
são tão diferentes,
que achamos que não pensam.
Vivemos em estado de guerra
com a alteridade que mora dentro e fora de nós.
Esse é o defeito original das fronteiras que fabricamos.”
Mia Couto
Dizem que ele [Heráclito],
interrogado sobre por que razão estava em silêncio,
respondeu: “para que possais tagarelar”.
HERACLITUS. In: LAERTIUS, Diogenes. Vitae philosophorum.
"Fome de tudo – de conhecer por dentro
– fome do miolo todo, do bagaço, da última gota de caldo.”
.
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.
eu tô igual a um cais:
a ver navios
ESTOU
EM
BREVE
em mim só acontece
o que eu
entendo
eu substitui o destino
pelo intestino
porque
prefiro digerir
tudo
doenças crônicas
são rastros da máquina
na real
Paz?
paz tem a pedra
que não sabe o perfume
"Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo".
.
- Ricardo Reis [Heterônimo de Fernando Pessoa],
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo".
.
- Ricardo Reis [Heterônimo de Fernando Pessoa],
(escrito em 13.11.1935), In Poesia
“E de repente eu estava gostando dele,
num descomum, gostando ainda mais do que antes,
com meu coração nos pés, por pisável;
e dele o tempo todo eu tinha gostado.
Amor que amei – daí então acreditei.”
.
- João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas.
.
- João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas.
eu não me iludo
o tempo é mudo
o tempo é mudo
e escorre silencioso
através das linhas
estritas do teu rosto
através das linhas
estritas do teu rosto
a manhã clareia
azul
meu estado
de pele
branca
azul
meu estado
de pele
branca
e
amar
amar
amar
em alguns casos
é um destroçar contínuo!...
amar
amar
amar
em alguns casos
é um destroçar contínuo!...
convexo
pro
penso
converso
comigo
mesmo
e me
convenço
a ser
côncavo
converso
comigo
mesmo
e me
convenço
a ser
côncavo
infâ(ncia)mia
ninguém
minha mãe
sofreu tanto assim
e o rosto já sumido
mas vivo ainda o olhar
do travesseiro olhava para a janela
e os dias que restavam
enchiam o dormitório
à cata das migalhas
de afeto
que o pai já ausente
esqueceu de entreter o filho
minha mãe
sofreu tanto assim
e o rosto já sumido
mas vivo ainda o olhar
do travesseiro olhava para a janela
e os dias que restavam
enchiam o dormitório
à cata das migalhas
de afeto
que o pai já ausente
esqueceu de entreter o filho
o amor por um momento
ao sul declina
e já se sabe que é morte
ao sul declina
e já se sabe que é morte
estamos tão longe
de tudo
de luto
de tudo
de luto
resta apenas o efeito
em uma ponta
de nuvem
em uma ponta
de nuvem
dilato minha ingênua fúria
em alguma noite
em alguma noite
neste mesmo instante
ouço no fluir da mente
profundas distâncias
ouço no fluir da mente
profundas distâncias
enquanto isso
tomam-me pela mão
nuvens
e
encontro nas árvores
um fogo de outono
tomam-me pela mão
nuvens
e
encontro nas árvores
um fogo de outono
sob um céu azul
de tinta
repentina
vaga mais uma manhã
de tinta
repentina
vaga mais uma manhã
poeta insone:
perdi o sono
ganhei poesia
perdi o sono
ganhei poesia
manhã
deslumbro-me
imenso
deslumbro-me
imenso
"com minha fome de lobo
amaino
meu corpo de cordeiro
amaino
meu corpo de cordeiro
sou como
a barca ínfima
e o libidinoso oceano"
a barca ínfima
e o libidinoso oceano"
Atrito
Giuseppe Ungaretti
Giuseppe Ungaretti
"O encarnado do céu
desperta oásis
para o nômade de amor"
desperta oásis
para o nômade de amor"
Sol-pôr
Giuseppe Ungaretti
Giuseppe Ungaretti
o que cativa um poeta
não é a poesia
- é a palavra
não é a poesia
- é a palavra
manhã é névoa que nos cancela
nasce talvez um sol no alto
por trás da janela
por trás da janela
escuto agora um carro passando
do lado de fora
de onde a cidade
atravessa
do lado de fora
de onde a cidade
atravessa
então sol rapta a cidade
nada mais se vê
de tanta clareza
nem mesmo as ruas resistem muito
nada mais se vê
de tanta clareza
nem mesmo as ruas resistem muito
o sol põe sobre
os postes
reflexos
de luz
os postes
reflexos
de luz
um olho
do outro lado da rua
espia
um
sonho
do outro lado da rua
espia
um
sonho
deste dia
que acorda
resta
a vida
em inexaurível segredo
que acorda
resta
a vida
em inexaurível segredo
cada pessoa se expande
e demora
nas outras
e demora
nas outras
para ficar mais só
basta mirá-las
basta mirá-las
validade
se você faz aniversário
desfaça seus dias
devagar
da pétala
ao papel de presente
retirar o embrulho
e jogar
fora
junto com o seu último
inferno
astral
de molho a vida
de novo
antes que seja tarde
soprar
ainda que por muitos anos
as velas
ainda que os barcos
naveguem
a esmo
e os seus canhões
disparem
parabéns
desfaça seus dias
devagar
da pétala
ao papel de presente
retirar o embrulho
e jogar
fora
junto com o seu último
inferno
astral
de molho a vida
de novo
antes que seja tarde
soprar
ainda que por muitos anos
as velas
ainda que os barcos
naveguem
a esmo
e os seus canhões
disparem
parabéns
“A vida sem a música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio.”
.
– Friedrich Nietzsche, em “Cartas a Peter Gast”, Nice, 15 de janeiro de 1888.
.
– Friedrich Nietzsche, em “Cartas a Peter Gast”, Nice, 15 de janeiro de 1888.
as coisas que me assustam
é porque não me assentam
é porque não me assentam
"Eu
agora
estou livre
do amor,
dos cartazes.
O urso
do ciúme
é um tapete de unhas.
Quem quiser
uma prova
de que a terra é curva,
sentado
sobre as próprias nádegas,
resvale!
Não,
não vou impor
os meus humores negros,
já não quero falar,
e com quem falaria?
São
as guelras da rima,
aflando sem sossego,
em gente como nós,
na areia da poesia.
O sonho é dano,
a fantasia inútil,
é preciso
arrastar
as rotinas do tédio.
Mas ocorre
que a vida
tome um perfil inédito,
e revele
a grandeza
através do que é fútil.
Nos dois
contra o lirismo,
baioneta calada,
buscamos
a nudez
da palavra precisa.
A poesia,
porém,
é uma não-sei-que-diga,
largada por aí,
sem lugar para nada.
Isto,
por exemplo,
é falado ou balido?"
agora
estou livre
do amor,
dos cartazes.
O urso
do ciúme
é um tapete de unhas.
Quem quiser
uma prova
de que a terra é curva,
sentado
sobre as próprias nádegas,
resvale!
Não,
não vou impor
os meus humores negros,
já não quero falar,
e com quem falaria?
São
as guelras da rima,
aflando sem sossego,
em gente como nós,
na areia da poesia.
O sonho é dano,
a fantasia inútil,
é preciso
arrastar
as rotinas do tédio.
Mas ocorre
que a vida
tome um perfil inédito,
e revele
a grandeza
através do que é fútil.
Nos dois
contra o lirismo,
baioneta calada,
buscamos
a nudez
da palavra precisa.
A poesia,
porém,
é uma não-sei-que-diga,
largada por aí,
sem lugar para nada.
Isto,
por exemplo,
é falado ou balido?"
Maiakóvski
"É a madrugada e a noite que rolam sobre os telhados
do poema. É Deus que rola e a morte
e a vida violenta. E o meu coração é um castiçal
à beira
do povo que até mim separa os espinhos das formas
e traz sua pureza aguda e legítima.
– Trazem liras nas mãos, trazem nas mãos brutais
pequenos cravos de ouro ou peixes delicados
de música fria.
do poema. É Deus que rola e a morte
e a vida violenta. E o meu coração é um castiçal
à beira
do povo que até mim separa os espinhos das formas
e traz sua pureza aguda e legítima.
– Trazem liras nas mãos, trazem nas mãos brutais
pequenos cravos de ouro ou peixes delicados
de música fria.
– Eu enlouqueço com a doçura dos meses vagarosos."
Herberto Helder
"violência da calmaria,
às vezes,
é mais terrível do que a travessia das tempestades."
a poesia é aquele movimento
estranho
sem noção
que acontece com as palavras por dentro
que de repente desembaralham
e elas mesmas são as cartas
e se arrumam sozinhas
descabeladamente
ou por vício ou por presteza
numa velocidade tamanha
que desprende de vísceras
e se salva desesperada
agarrada a alguma razão
que a fez nascer
e ser impune aos tamanhos
ouvidos
do
mundo
estranho
sem noção
que acontece com as palavras por dentro
que de repente desembaralham
e elas mesmas são as cartas
e se arrumam sozinhas
descabeladamente
ou por vício ou por presteza
numa velocidade tamanha
que desprende de vísceras
e se salva desesperada
agarrada a alguma razão
que a fez nascer
e ser impune aos tamanhos
ouvidos
do
mundo
a poesia é qualquer vida
em
transição
em
transição
a vida quando complica
adapta
por isso ando
adaptando
tudo
adapta
por isso ando
adaptando
tudo
meu duvidar é uma petição de mais certeza
suponho que alguém
tenha tanta ideia
do que seja na verdade
– um espelho?
apenas do que se sabe nas
noções de física
com que se familiarizam
as leis da óptica
eu vou mais ao transcendente:
tudo é a ponta
de algum mistério
tenha tanta ideia
do que seja na verdade
– um espelho?
apenas do que se sabe nas
noções de física
com que se familiarizam
as leis da óptica
eu vou mais ao transcendente:
tudo é a ponta
de algum mistério
“Não sei de nada. Não há nada que eu saiba.
Porém certas coisas se sentem com o coração.
Deixa falar o teu coração, interroga os rostos,
não escutes as línguas..."
.
- Umberto Eco, em "O nome da Rosa".
.
- Umberto Eco, em "O nome da Rosa".
"Ando com fome de coisas sólidas e com ânsia de viver só o essencial. Leia o "Time must have a stop", de Huxley. Pessoalmente, penso que chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente por introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade"."
.
- João Guimarães Rosa, em carta a Antonio Azeredo da Silveira, Rio de Janeiro, 27-X-45. In: "SILVEIRA, Flavio Azeredo da.(org.). 24 cartas de João Guimarães Rosa a Antonio Azeredo da Silveira.
.
- João Guimarães Rosa, em carta a Antonio Azeredo da Silveira, Rio de Janeiro, 27-X-45. In: "SILVEIRA, Flavio Azeredo da.(org.). 24 cartas de João Guimarães Rosa a Antonio Azeredo da Silveira.
preste atenção
a vida tá passando bem na sua frente
e você não
se atentou que tudo isso está diferente
em transição
em trânsito
em mutação
nada é estático
de onde vem
tudo o que eu vejo em volta
é feito de gente
o que se atém
porque se achar melhor é tão indiferente
em solidão
incerto
não tem paixão
não tem
afeto
pois ali dentro do seu coração
uma andorinha só não faz verão
a vida tá passando bem na sua frente
e você não
se atentou que tudo isso está diferente
em transição
em trânsito
em mutação
nada é estático
de onde vem
tudo o que eu vejo em volta
é feito de gente
o que se atém
porque se achar melhor é tão indiferente
em solidão
incerto
não tem paixão
não tem
afeto
pois ali dentro do seu coração
uma andorinha só não faz verão
e eu não sou ninguém sem você
e eu não sou ninguém sem nós dois
e eu não sou ninguém sem alguém
do lado
sem humanidade o mundo está acabado
e eu não sou ninguém sem nós dois
e eu não sou ninguém sem alguém
do lado
sem humanidade o mundo está acabado
- o mundo mudou
e aumentou sua vaidade
o homem foi na lua mas perdeu a humanidade
e eu me pergunto:
o que aconteceu?
desamarramos os nós e destruímos o eu
vivemos a ilusão de que tudo é individual
matamos a compreensão e tá tudo desigual
e você não entende o que está errado
tua visão é cega
e se prendeu no teu quadrado
enquanto do lado
alguém chama o teu nome
já alguém não distante
morrendo de fome
você pergunta:
incomodar pra quê?
o mundo gira meu irmão
amanhã pode ser você
.......
há esperança pra nós
esperança
há esperança pra nós
.......
preste atenção
a vida tá passando bem na sua frente
e aumentou sua vaidade
o homem foi na lua mas perdeu a humanidade
e eu me pergunto:
o que aconteceu?
desamarramos os nós e destruímos o eu
vivemos a ilusão de que tudo é individual
matamos a compreensão e tá tudo desigual
e você não entende o que está errado
tua visão é cega
e se prendeu no teu quadrado
enquanto do lado
alguém chama o teu nome
já alguém não distante
morrendo de fome
você pergunta:
incomodar pra quê?
o mundo gira meu irmão
amanhã pode ser você
.......
há esperança pra nós
esperança
há esperança pra nós
.......
preste atenção
a vida tá passando bem na sua frente
(e a solidão
pode vir a ser algo
diferente)*
pode vir a ser algo
diferente)*
E EU – (Xuxa Levy/ Jesus Luhcas)
*intromissão de Julio Carvalho
*intromissão de Julio Carvalho
DRAMAS
#2
dramas nunca caducam,
pois não esperam. a própria
intenção segura o sangue
da fera, o peso inflado
de nada é um pavor
empanado.
dramas anunciados assoviam
o silêncio e não cabem
no mundo, são mais reais,
por isso não sucumbem.
pois não esperam. a própria
intenção segura o sangue
da fera, o peso inflado
de nada é um pavor
empanado.
dramas anunciados assoviam
o silêncio e não cabem
no mundo, são mais reais,
por isso não sucumbem.
interinventado do poema de João Pedro Liossi
DRAMAS
#1
os dramas não esperam
o último toque, o derradeiro
bilhete do ônibus, o fiapo
podre da toalha molhada,
da lembrança. os dramas
não esperam, já estão,
antes, forrando o estômago
com uma grama amarga,
programados para doer.
o último toque, o derradeiro
bilhete do ônibus, o fiapo
podre da toalha molhada,
da lembrança. os dramas
não esperam, já estão,
antes, forrando o estômago
com uma grama amarga,
programados para doer.
interinventado do poema de João Pedro Liossi
sendo
somos
sou
somos
sou
temo
às vezes
deixo
de
ser
deixo
de
ser
"Ensaio para o aquoso e o vítreo
No olho do poeta corre o rio
Deságua a estrela
Florescem pétalas e astros
Pululam divindades
Deságua a estrela
Florescem pétalas e astros
Pululam divindades
No olho do poeta escorre o fio
Cresce a lágrima
Do que era, do que é findo
Em todo o infinito
Cresce a lágrima
Do que era, do que é findo
Em todo o infinito
No olho do poeta
Só no olho do poeta
a vida brilha ressuscitada"
Só no olho do poeta
a vida brilha ressuscitada"
Yesterday don't matter,
'cause it's gone.
'cause it's gone.
não tenho pedaços de mim
tenho percalços em mim
tenho percalços em mim
no início
eu fazia e mexia
pensar não pensava
não possuía prazos
ou vínculos
vivia puxando difícil de difícil
peixe vivo em rede escassa
quem mói na vida não fantasia
é moído que dói por dentro
mas agora
feita a folga que me vem
sem pequenos desassossegos
estou de encosto e rede
e me inventei nesse gosto
de especular ideia e fazer poesia
o diabo existe e não existe
deuses existem e não existem
e são o dito
prenúncio de certas melancolias
o senhor vê: existe cachoeira
tanto que existe mar
e então?
cachoeira é barranco de chão
com água caindo por ele retombando
mar arregaça pedra e faz areia
o senhor consome essa água
ou desfaz o barranco
ou desenha na areia
sobra cachoeira alguma?
alguma água de chão?
pois é
viver é negócio muito perigoso..."
.
- Ousadamente adaptado de João Guimarães Rosa, em 'Grande Sertão: Veredas'.
eu fazia e mexia
pensar não pensava
não possuía prazos
ou vínculos
vivia puxando difícil de difícil
peixe vivo em rede escassa
quem mói na vida não fantasia
é moído que dói por dentro
mas agora
feita a folga que me vem
sem pequenos desassossegos
estou de encosto e rede
e me inventei nesse gosto
de especular ideia e fazer poesia
o diabo existe e não existe
deuses existem e não existem
e são o dito
prenúncio de certas melancolias
o senhor vê: existe cachoeira
tanto que existe mar
e então?
cachoeira é barranco de chão
com água caindo por ele retombando
mar arregaça pedra e faz areia
o senhor consome essa água
ou desfaz o barranco
ou desenha na areia
sobra cachoeira alguma?
alguma água de chão?
pois é
viver é negócio muito perigoso..."
.
- Ousadamente adaptado de João Guimarães Rosa, em 'Grande Sertão: Veredas'.
“[...] toda palavra, sim, é uma semente; entre as coisas humanas que podemos nos assombrar, vem a força do verbo em primeiro lugar; precedido o uso das mãos, está no fundamento de toda prática, vinga e se expande, e perpetua, desde que seja justo.”
.
- Raduan Nassar, no livro "Lavoura arcaica".
.
- Raduan Nassar, no livro "Lavoura arcaica".
engraçado
como
ninguém mais
entende
a felicidade
genuína
como
ninguém mais
entende
a felicidade
genuína
verborragia
critica
critica
" yo participo del coro tal y el director dice que el coro es como un cuento que tiene principio, desarrollo y final... "
estoy muy perdido
via Mariano Raffaelli
ao
atravessar
a lua
olhe
para
ambos
os
lados
atravessar
a lua
olhe
para
ambos
os
lados
"- O cheiro da árvore tá chegando até o final da rua.
Dei risada e disse:
- A árvore se chama Incenso e de quebra a rua ganhou uma orquídea que, em breve deverá florir.
Quem sabe na próxima lua."
Dei risada e disse:
- A árvore se chama Incenso e de quebra a rua ganhou uma orquídea que, em breve deverá florir.
Quem sabe na próxima lua."
- biscoito da sorte incompleto poético :
o investimento mais lucrativo
é o amor ao próximo dos homens pela língua
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