quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

das cicatrizes...

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“Criou asas, sem jamais poder voar” 
Agustina Bessa-Luís
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os dias e as noites passam tão rapidamente 
que só sentimos o voo. 
quando os anos marcam nosso corpo, 
com as dobras, as veias, as rugas, 
o saber sobre as coisas enobrece. 
caminhos percorridos às vezes adiados 
nem sempre notados.
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são pra mim é santo
coisa que nem eu nem você somos
se não tem onde falar
faça o que calar
não se mude
não mude
desabafe
que nem eu 
nem  nós dois
somos
sãos
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as cicatrizes e um nada cego

quero uma porta de entrada para interiores fictícios
quando mais tarde eu arrancarei o coração do peito 
para secá-lo com um trapo e usar limpando 
apenas as coisas mais sujas
matéria de palha
a água da calha
barrenta
imunda
a ferragem do coração
emoção morta
alma na palma da mão
escovada
o tecido
violentamente
arrancado
com aquelas cicatrizes
em dois dias
acidentes
de duas pessoas
diferentes
mas não era no corpo
que as cicatrizes
apareciam
elas estavam onde
o coração
permanecia
mais
sujo

(um olhar de fora
menos atento
percebe
tudo)
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a beleza é uma profissão
enquanto artista
ou poeta
aos olhos de quem
cria
sua cria é sua arte
que vem da expressão
do excesso engasgado
do medo da solidão
de não ser compreendido
por forma
coisa ou razão
um artista tem na beleza
o modo impresso
o ímpeto
a força na construção 
do que não soube
do que não pode reproduzir
de outra forma
a não ser que
seja
intensa
forte
e
plena
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você é um chato sempre agora?
que suas dores são agudas?
pontiagudas?
e eu vou com flores
suas dores que se danem
sua obrigação é de não faltar
até que eu e minhas rimas
se cansem
e eu me fartar
dab ataque
rehab rebate
arranque
as algemas
os ruídos
as rimas
com 
pelo, apêlo, apelo, apego
pego pelo meio
e faço rimar
a força
com a forca
e a rima do silêncio
eu faço você
navegar
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