segunda-feira, 2 de julho de 2012

dos destraves...


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“ninguém vai dizer
que foi por amor
todos vão chamar
de derrota.”
Cícero – trecho da música "Vaga-lumes Cegos"

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al(ma)gema
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sete poemográficos de biblioteca

I
ser intenso custa caro
vivo aos poucos e lentamente
escondendo
sinceridades
colocando pra fora
as poucas garras
que sobram
porque raiva acaba que não serve
pra nada
acaba que tudo
eu custo muito
eu gasto restos indistintos
ando economizando lentamente
bem pouca coisa
da
vida

II
perdi a vergonha
encontrei a verdade
perdi a fé
ouvi a demora das coisas
espelhadas em séculos
perdi o início
acabei-me nos zeros

III
tudo o que fiz cabe num palito de fósforo
tudo pronto a acender
mas essa fagulha não vem nunca
por isso este todo ainda tão apagado

IV
deus improvisa e não avisa:
somos oráculos ocos
carecendo de adivinhação

V
a verdade não foi feita para estar na boca de qualquer um

VI
o emprego do velho é a falta

VII
eu tenho assim estranhos formatos de poemas
poemas em forma de corte
aqueles colocados em círculos infinitos
poemas em forma de silêncio
aqueles empilhados até as nuvens
poemas em forma de arrependimento
aqueles enterrados a sete palmos
poemas em forma de mágoa
aqueles envoltos em névoa difusa
poemas em boa forma são
aqueles não escritos
e publicados por precaução
só na memória
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