sábado, 7 de março de 2015

dos exorcismos...

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"entre o céu e o mar,
onde começa o fim do mundo
habita um fio de voz,
murmúrio de uma vida inteira,
que em mim germina palavra."
                  António Patrício
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de todas as viscosidades 
a que mais me incomoda 
é a inconsistência 
do pensamento
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então o rio
a solidão escapando do mês de março
bebo água viva para fluir de tudo
talvez entre um poema e um desconforto
pudesse sentir algum calor 
narrando um silêncio no meu corpo
as digitais de alguém 
desenhando nuvens nas minhas costas
o amor é uma tênue penumbra presente na pele
aumentou o rio e noite que molham meus olhos
por onde andei 
antes das margens e o medo 
indicarem o caminho? 
agora passam casas e frases pelo pensamento
dilatam olhos, pontos, objetos
eu construo uma janela própria 
para entender o olhar e as imagens
dentro dessa cabeça 
uma mancha
remoendo
poesia
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no meu reino
eu remo 
rimo 
regresso
rego as raízes das coisas
renasce um relâmpago
e meus receios
ressurgem
se arrastam pelos
raios da minha retina
a terra arrasta o meio
minha referência
é o som 
ou qualquer
resquício 
de 
um trovão
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musicando
colocar a palavra cansada
em cartas registradas
nos abismos da papel
trago na boca
o que não foi dito
selados em saliva
num poema de haver reticências
rascunho de coisa
enroscada no peito
vinil antigo
bala na agulha
feito música
antiga
sem a nota musical
nasce um pedaço
de ansiedade
é preciso saltar a palavra
angústia
e nem me venha 
com finais 
de rimas
felizes
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penso na primeira vez que alguém me disse uma palavra
não lembro
o silêncio seco do seu sopro sussurrando a solidão
o cheiro vermelho do nascimento
havia um abismo pintado sobre um mapa
eu carvalho num espaço infinito aberto pela curva
aos poucos
outros sons e as volumes ocuparam 
as praças
as pedras
as esquinas 
e uma mulher chamada mãe
estilhaçou meu ouvido com um nome
julio
inventou-me este lugar
esta distância
criou-me um mundo 
a partir deste som
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